Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 43 anos de trajetória. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
Descobrir novos talentos poéticos é importante, màs vezes descobrimos coisas não muito elogiáveis. A biblioteca pública de uma grande cidade catarinense promoveu, há algum tempo, um concurso de poesia entre estudantes de primeira a oitava séries. Iniciativa meritória, incentivar a criação literária e a leitura entre leitores em formação. E até porque o certame é dirigido aos pequenos leitores e possíveis futuros produtores de texto, não seria preferível, quem sabe, chamar de concurso de poesia (no singular) ou de poemas? Porque poesia é o conteúdo e poema é a forma.
Um poema pode não conter poesia (e isso é tão comum de se encontrar!) e a poesia está contida em tudo, na prosa, num gesto, na natureza, etc., etc. Talvez fosse bom enfatizar essa diferença para crianças e adolescentes, para que soubessema diferença e pudessem entender melhor o que estão fazendo.
Mas o que me fez abordar o tema foi outra coisa. Entre os poemas vencedores encontramos pelo menos dois que são “inspirados” ou “baseados” em musicas conhecidas, uma de Vinicius de Moraes e outra cantada (?) pela Xuxa. Não sei se o grupo de poetas que selecionou os vencedores foi questionado – e acho que deveriam ser – mas a professora que coordenou o concurso justificou como sendo “paródias” as referidas “poesias”. Acho temerário um professor incentivar o plágio, justamente quem deve incentivar os alunos e ensinar a maneira mais correta possível de criar o próprio texto, de ser original.
Voltamos, então, a um assunto já discutido numa de nossas crônicas, mas muito delicado e que merece ser relembrado.Não podemos usar a obra de outrem impunemente, sem colocar o trecho que “emprestamos” entre aspas e citando o autor e a fonte. Não podemos pegar um texto ou um poema de quem quer que seja, trocar algumas palavras e assinar como sendo nosso, isso é apropriação indébita, é plágio. E plágio é crime.
Já fui jurado de concurso de poesia e encontrei trechos de “Marília de Dirceu”, assinado por outro “autor” que não Tomás Antonio Gonzaga, poema de Neimar de Barros e até coisa minha como sendo de outrem. Mas o grupo que estava selecionando os melhores poemas descartou de imediato aqueles nos quais se reconhecia alguma coisa já pré-existente. Espero que tenha sido um caso isolado e que não se cometa mais, onde quer que seja, este tipo de erro.