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A literatura, os escritores e a escola

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Por Luiz Carlos Amorim

Os escritores foram e são ainda, para as crianças que estão começando a descortinar o infinito horizonte da palavra, algo inatingível, meio mágico, talvez mítico. Isso, dito por elas mesmas. A criança é naturalmente curiosa, sedenta de conhecimento e experiência, e ficar cara a cara com um escritor, conheça ela a obra dele ou não, é um acontecimento no mínimo singular. É claro que se ela tiver lido algum texto, algum livro do autor que lhe for apresentando, o interesse pode ser maior. Descobrir que o escritor é alguém igual a ela, uma pessoa comum que tem o dom da palavra, pode ajudar a criança e perceber que ela é capaz de ser o que ela quiser.

Já fui convidado várias vezes para dar palestras e entrevistas a estudantes do primeiro e segundo graus e sei bem da reação e da receptividade deles. Eu prefiro dizer que fui conversar com os estudantes do que “dar palestra” e prefiro, também, conversar com o primeiro grau, porque a criança é mais espontânea, participa mais, tem mais interesse do que o adolescente e o jovem, que têm receio de se expor. O “palestrante” escritor não precisa preparar nada, pois as crianças, os estudantes perguntam, querem saber sobre tudo: o processo de criação, a seleção, o controle de qualidade, a edição, a publicação, a venda – desde o início, da produção do texto, seja ele poesia ou prosa, até chegar às mãos do leitor. E o resultado disso, o impacto tanto no leitor como no autor. Quando as perguntas terminam, pedem autógrafos, mostram sua própria produção, pedem dicas.

Essa integração entre o escritor e a escola é desejável e existe, em algumas escolas. Não com a frequência e na quantidade de escolas que gostaríamos, mas existe. Oficialmente, existe um projeto chamado Programa Autor/Escola, que foi lançado há alguns anos em Santa Catarina e chegou a acontecer de fato por algumas poucas vezes. No entanto, o que existe hoje são iniciativas isoladas de escolas, professores e alguns escritores, em uma outra cidade.

Infelizmente, apesar dos bons objetivos, do incentivo à leitura junto aos leitores em formação e da divulgação do escritor regional, o projeto apenas vem à tona, de tempos em tempos, com promessas de reativação que nunca se cumprem. O que existe de concreto é o trabalho dos bons professores de Português e Literatura, que convidam escritores de suas respectivas regiões para comparecerem as suas escolas. E o resultado é fabuloso, com os estudantes recriando a obra lida – sim, porque eles leem – em outras mídias, como teatro, vídeo, poesia, quadrinhos, etc. Tomara que esses quase dois anos sem escola em razão da pandemia de covid19 não venha a acabar com o bom trabalho de alguns professores dedicados e abnegados, que conseguiam dar foco à literatura e incutir o gosto e o hábito da leitura nos leitores em formação.

Os escritores do Grupo Literário A ILHA são testemunha de que essa tentativa de valorizar a literatura regional é eficiente, pois vários deles são convidados a falar sobre a sua vida e sua obra em escolas de algumas cidades pelo estado. Independentemente da “cultura oficial”.     

* Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 41 anos em 2021. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br                                         

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