André Naves (*)
Hoje em dia a turma cria os filhos diferente. Na minha época, não… Acho que tudo era mais simples, mais verdadeiro, mais genuíno. Não sei… É o saudosismo que vem tomando conta de mim. Acho que acontece com todo mundo: a gente vai ficando velho e meio bobo.
Mas é que, de verdade, tem umas coisas que eu não entendo! Meus sobrinhos mesmo: é um tal de não pode comer isso, não pode comer aquilo, que me dá até gastura. Vocês acreditam que eles ficaram anos sem açúcar? Qual o sentido disso?? E café, então? Acho que até hoje não tomam.
É por conta desses modismos modernosos que nossas tradições vão se perdendo. O que que custa dar pra criança um bolo de fubá e um cafezinho? Um bolinho caipira? Sabia que eu era recém-nascido quando minha vó Tereza me colocava no colo, fazia uma papinha de miolo de pão, manteiga e café e me dava? E eu tô aqui até hoje, não é?
Acho que já contei como eu adorava assistir aos jogos de futebol com meu pai. A gente ficava num quartinho e ele fumava um cigarro atrás do outro. E eu tô aqui! Nem fumar eu fumo… Eu até ganhei uma memória deliciosa: sempre que sinto aquele cheiro da fumaça eu lembro de tudo. Parece que o cheirinho me leva de volta. Pra mim, fumaça de cigarro é o perfume das saudades!
Não era futebol, mas nas Olimpíadas de 1992 em Barcelona foi a mesma coisa. A TV ligada, o cigarro do meu pai acesso… A fumaça deixava uma névoa tão boa no quarto! Marcelo Negrão fez ponto! Brasil foi ouro! OURO!
As memórias são o nosso ouro. Sempre que sinto aquele cheiro, vou para o alto do pódio.
Lá na minha vó Tereza era igualzinho. Domingo cedo. TV ligada no Ayrton Senna. Tema da vitória. O macarrão ia saindo junto com o assado. E o Senor Abravanel chegava no 4. Eu adorava. Pião. Baú. Show de Calouros. De noite tinha a semana do presidente. Como será que estava o Sarney? E a inflação?
Sabe o que também aprendi com ele? Que o ouro vale mais que dinheiro! Que toda pessoa tem uma beleza pra gente enxergar! Aprendi a aprender com tanta beleza! Esse é o ouro: enxergar e aprender!
Ouro das Saudades! Eu ainda sinto aquele perfume. Tanta coisa misturada… Mas sempre ela, a fumaça do cigarro. E ouço também… Vozes da tia Julinha, tia Mara, tio João, tio Fernando, Voz do Sílvio!
Fumaça de cigarro é o perfume da nostalgia! Vozes do Sílvio e do Lombardi são os sons da lembrança! O Sílvio Santos lá lá lá lá, lá lá lá lá ….
Pra quem mal tinha compromisso na segunda-feira, o domingo nunca tinha nada de depressão. Pelo contrário! Era o dia mais gostoso…
Kol Hakavod, Senor!
* André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP (@andrenaves.def).