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Sal, o grande vilão do coração (Amarildo Cruz)

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07/11/2015 06h35

Sal, o grande vilão do coração

Apesar do alerta em vários países, até o momento nenhuma nação do Mundo tratou a redução do sódio com marco regulatório.

Amarildo Cruz

O sal de cozinha faz parte do cardápio das pessoas há décadas. Difícil
encontrar alguém que não goste de temperar a comida com esse produto. Porém,
esse “sabor tão especial” esconde na verdade uma série de problemas que podem
se desenvolver com o passar dos anos, entre eles a hipertensão arterial, pedras
nos rins e insuficiência renal, aumento das chances das doenças autoimunes,
agravamento da osteoporose, além de afetar o paladar e acelerar o
envelhecimento.

É importante destacar que, se usado com moderação, ele não faz mal. Isso
porque o sal é rico em sódio, ou seja, uma substância essencial para manter o
equilíbrio de líquidos no corpo e ajudar na transmissão de impulsos nervosos e
no relaxamento muscular. O problema está no consumo em excesso. Ao consumir
além do recomendado ele reterá líquido e, consequentemente, aumentará o volume
de sangue nas artérias. O desequilíbrio na concentração de plasma sanguíneo faz
com que o coração acelere os batimentos, o que provoca a hipertensão.

No Brasil, o consumo por pessoa chega a 12 gramas diários. Estudos
realizados pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) apontam que um adulto
deve consumir no máximo a quantidade de 2 gramas mineral por dia, o que
representa aproximadamente uma colher de chá.

Conforme a entidade, se o consumo de sal no Brasil, seguisse os padrões
recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), haveria uma diminuição de
15% nos óbitos por Acidente Vascular Cerebral e redução de 10% dos óbitos por
infarto. Além disso, 1,5 milhão de pessoas ficariam livres de medicação para hipertensão
e a expectativa de vida de indivíduos hipertensos aumentaria mais quatro anos.

Apesar do alerta em vários países, até o momento nenhuma nação do Mundo
tratou a redução do sódio com marco regulatório. O Canadá foi pioneiro em
propor a redução de forma voluntária. Em Portugal, saleiros não ficam à
disposição nas mesas de estabelecimentos comerciais, e quando solicitados aos
garçons, estes, por sua vez, relutam em fornecê-los, dizendo aos seus clientes
que o produto não faz bem à saúde.

No Brasil, estão trabalhando, de forma articulada, Governo, setor
produtivo e sociedade civil organizada, com o objetivo de desenvolver ações que
contribuam para redução. O Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da
Indústria de Alimentos (Abi) firmaram o quarto acordo, desde 2011, para a
redução da quantidade de sódio em alimentos industrializados no país.

Segundo estimativas do governo, aproximadamente 11,3 mil toneladas de
sódio deixaram de ser adicionadas aos alimentos produzidos pela indústria
nacional em dois anos. A meta é que este número chegue a 28,5 mil toneladas.
Além disso, esses resultados vão atuar diretamente em outra taxa importante:
reduzir a mortalidade prematura, ou seja, de quem tem menos de 70 anos, por
doenças crônicas não transmissíveis, em 2% ao ano.

Estados como Espírito Santo já regulamentaram lei restringindo o consumo
de sal em estabelecimentos comerciais. Em Mato Grosso do Sul, tramita na
Assembleia Legislativa projeto de lei, de minha autoria, proibindo a disposição
e exposição de “saleiros” em mesas e balcões de bares, restaurantes,
lanchonetes e similares.

Pela proposta, o sal só poderá ser disposto nos estabelecimentos, se
solicitado pelo cliente. Como o consumo de sal em excesso é cultural, muitas
pessoas discordam da proposta, porém a medida ganha força e o apoio da classe
médica e de outros profissionais da área de saúde, que diariamente atendem
pessoas com problemas relacionados ao consumo excessivo de sódio.

Apresentei a proposta porque entendo que é dever do Estado zelar pela
saúde e qualidade de vida da sua população. Rejeição semelhante aconteceu
quando começaram discutir os projetos para diminuição do consumo de cigarros.
No início muitas pessoas foram contrárias às propostas, todavia com o passar
dos anos as leis ganharam força.

Acredito que o projeto seja aprovado na Assembleia Legislativa até
dezembro deste ano. Ele prevê que o estabelecimento infrator poderá ser multado
em 20 UFERMS e, em caso de reincidência, a multa será de 40
UFERMS. Estamos, ainda, programando uma audiência pública na Assembleia
Legislativa para democratizar o debate. Uma alimentação balanceada pode
garantir uma vida mais longa. A mudança vale a pena e o seu coração
agradece.

Amarildo Cruz é Deputado Estadual, Fiscal Tributário Estadual, Advogado
e Pós-Graduado em Gestão Pública

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