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Cientistas e mães

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14/05/2017 21h59

Temos hoje um quadro bastante claro de como evoluiu nos últimos anos a participação das mulheres no espaço da universidade no Brasil

Vanderlan da Silva Bolzani

Temos hoje um quadro bastante claro de como evoluiu nos últimos anos a
participação das mulheres no espaço da universidade no Brasil. No plano
geral, os dados mostram resultados positivos, inclusive na comparação
com outros países. Anos consecutivos em que mulheres têm se igualado ou
superado os homens no número de ingressantes nos cursos de graduação
reduziram de forma significativa a desigualdade de gênero nesse patamar.
A presença em projetos e grupos de pesquisa aumentou, da mesma forma,
sinalizando que nos próximos anos teremos também aqui uma participação
mais expressiva de mulheres.

A desigualdade aparece, entretanto, quando fechamos o foco em áreas
específicas desse quadro. Os cargos de direção nas universidades, nos
institutos de pesquisa, academias internacionais, nacionais e estaduais
de ciência, associações científicas e órgãos de administração continuam,
em sua grande maioria, sendo ocupados por homens. Quando se avança em
direção ao topo da carreira de professor e pesquisador, um processo de
seleção “natural” reduz progressivamente o número de mulheres nos níveis
médio e alto. Isso se reflete, por exemplo, no número de mulheres que
obtêm as bolsas de produtividade nível 1A concedidas pelo CNPq. Elas
somam apenas 24% do total. Na área conhecida como STEM (da sigla em
inglês para Science, Technology, Engineering and Mathematics) mantém-se
a marcante diferença, com expressivo predomínio masculino. Assim como o
número de mulheres exercendo a atividade profissional nessas áreas está
distante da igualdade.

O tema é objeto de muitas análises em busca de ações que possam mudar
tal realidade, presente não somente no Brasil, mas também em sociedades
de economia avançada. Uma mudança cujo valor além de humanitário é
econômico, já que nenhuma sociedade moderna e sustentável deveria
prescindir da contribuição de integrantes que representam metade do
corpo social.

Alguns fatores surgem com maior frequência nas análises. Um dos mais
destacados é o peso da tradição social e cultural que forma meninas e
meninos de forma desigual. Enquanto eles são estimulados a se
interessarem por ciência e pela ascensão profissional, elas são levadas
a associar seu papel feminino com atividades de cuidadora da família e
de ensino. Mas esse padrão cultural pode ser alterado, como vem sendo,
aos poucos, por políticas públicas e programas de apoio e estímulo à
criatividade e ao conhecimento para ambos.

Se considerarmos a linha do tempo, a situação atual registra um avanço
qualitativo nas práticas e na visão que a sociedade incorporou frente a
necessidade de oportunidades iguais para homens e mulheres.

É nesse contexto que hoje se torna importante ampliar o debate sobre
como a universidade deveria se estruturar para atuar mais efetivamente
nesse processo de evolução. Que respostas podemos encontrar para
questões como a descontinuidade da carreira acadêmica das mulheres em
razão da maternidade em todo o mundo? Desafio que se impõe de maneira
marcante em alguns países, onde jovens promissoras e talentosas são
levadas a abrir mão de seu desenvolvimento profissional.

Quase no final da segunda década do século XXI, desejamos que o dia das
mães simbolize também uma consonância de toda a sociedade por uma nova
mentalidade em torno da questão de gênero. Uma mentalidade que leve a
novas ações que incentivem as jovens a exercerem, sem conflitos, suas
identidades de cientistas e de mães. Que mulheres cientistas de
reconhecido talento não se sintam alijadas do reconhecimento natural no
topo de suas carreiras, tendo sempre o mérito como base em qualquer
competição.

Colaboração de Vanderlan da Silva Bolzani, professora titular do Instituto de Química
da Unesp de Araraquara, vice-presidente da Fundunesp e da SBPC
Helena Bonciani Nader, presidente da SBPC e professora titular da Unifesp

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