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Venezuela vê turismo como opção para solucionar crise econômica

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06/05/2018 18h31

Com sua indústria de petróleo flutuando, a Venezuela está procurando por um novo motor de crescimento para uma economia em queda livre, e acredita que já chegou a uma resposta: um futuro construído não apenas com escavações e perfurações no mar, mas também com guarda-sóis e piñas coladas.

“O turismo é o petróleo que nunca foge”, disse em rede nacional a ministra do Turismo venezuelana, Marleny Contreras. Os problemas, no entanto, são a maior taxa de inflação do mundo, que fechou 2017 em 2.616%, e uma violência rampante.

Entre uma escassez severa de vários produtos básicos, alguns hotéis começaram a racionar papel higiênico. A crise fez também com que os índices de roubo aumentassem, e alguns resorts forçam os hóspedes a assinar contratos em que estes aceitam se submeter a uma inspeção rigorosa no check-out.

Mantendo uma inflação anual em torno de 3.000%, restaurantes e hotéis estão alterando os preços diariamente. Dependendo de como eles modificam as taxas do mercado venezuelano, visitantes estrangeiros podem acabar pagando perto de nada ou até US$ 500 pela mesma garrafa de rum típico do país.

Por todas essas questões, os analistas econômicos já acreditam que o setor do turismo pode ajudar a melhorar a situação. “Isso nunca vai acontecer”, afirmou Vanessa Rojo, diretora-geral do hotel El Égua, na cidade caribenha de Todasana, a 94 km de Caracas. Segundo ela, os negócios em seu resort caíram 80% no ano passado. Na maioria dos dias, é possível não ter nenhum hóspede.

A empresa, como muitas outras, enfrenta dificuldades em conseguir importar bens que na Venezuela são extremamente caros por causa da desvalorização da moeda. Em novembro, as interrupções de energia fizeram o hotel cancelar as reservas por uma semana. Outras questões colaboraram para a queda do empreendimento: as televisões em metade dos 18 quartos não funcionam porque as peças de reposição são muito caras ou simplesmente não existem mais no país.

A retomada Venezuelana

Apesar disso, o impulso ao turismo é um dos primeiros objetivos do presidente Nicolás Maduro. Procurando emular o sucesso cubano, que espera receber 5 milhões de turistas em 2018, o governo venezuelano está se esforçando para reformar hotéis estatais e atrair investimentos.

No centro dos novos objetivos está a ressurreição do Hotel Humboldt, um prédio cilíndrico construído em 1950 nas montanhas de Caracas. Em setembro do ano passado, o governo afirmou que uma “luxuosa” reforma no resort, que não funcionava mais, estava 70% terminada. Apesar da reinauguração ter sido marcada para dezembro, nada mais foi dito sobre o local nos meses seguintes.

Recentemente, Maduro tuitou um vídeo em que promove o projeto enquanto janta com sua esposa em um restaurante próximo ao Humboldt. “Vai ser o primeiro hotel sete estrelas da Venezuela”, afirmou ele nas imagens. De acordo com os dados oficiais, o país arrecada US$ 1 bi por ano com o turismo desde 2008. Lá, estão atrações como as Angel Falls e a longa costa de praias caribenhas.

Mas essas receitas desapareceram entre uma série de alertas de viagem dos Estados Unidos e dos países da Europa. Em 2017, a Venezuela já aparecia na penúltima posição no ranking de crescimento mundial do turismo, de acordo com o World Travel & Tourism Council. Ficou à frente apenas do Iêmen e atrás de países como Líbia, Síria e Nigéria.

O declínio da indústria do turismo é parte de uma economia externa em desintegração refletida em uma contração de 15% do PIB no último ano. A crise está ligada ao petróleo, que representa cerca de 90% das receitas do governo. Com as quedas constantes no preço do produto no mercado global, as empresas petrolíferas do país foram à falência, pioradas por corrupção e negligência. Críticos também apontam o problema econômico da Venezuela pela má condução de Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, morto em 2013.

Apesar do aumento das forças repressivas do Estado, o crime também cresceu na Venezuela. Os cidadãos que possuem alguma condição estão blindando seus veículos e viajando em caravanas pelas estradas. Em 2017, 53 pessoas foram mortas a cada dia no país, de acordo com o Ministério do Interior. Os dados indicam que a Venezuela é um dos países mais perigosos do mundo.

“O problema agora é a segurança”, afirmou o proprietário de um pequeno hotel na cidade litorânea de Chichiriviche ao Washington Post. “Os turistas estrangeiros não virão se eles pensarem que serão mortos”, completou. Seu empreendimento era lotado de europeus e estadunidenses há dois anos, mas os visitantes do exterior pararam de viajar. O último foi um belga que apareceu em abril de 2017, mas como ele foi visto circulando pela cidade, foi assaltado por cinco homens mascarados dentro do lobby do hotel.

Em outro resort, na ilha de Margarita, os preços do menu sobem em um dos restaurantes mais famosos do país: o Juana La Loca. O proprietário, Carlos Guerra, afirmou aos periódicos locais que os pescadores da região vendem seus peixes por dólares aos restaurantes próximos a Aruba e Curaçao, ilhas holandesas próximas à Venezuela. Os custos mais altos refletem no valor dos pratos do Juana: um polvo com molho de tomate e azeitonas custava 35 mil bolívares no ano passado – agora, vale 750 mil.

Apenas 15 companhias aéreas internacionais ainda voam para o vizinho sul-americano. Mais de 15 outras pararam de atuar no país nos últimos dois anos, citando preocupações econômicas e problemas de segurança, incluindo roubos de bagagens nos aeroportos. Em março de 2016, um egípcio foi morto durante um assalto no aeroporto internacional de Caracas. Passagens aéreas internacionais para a Venezuela, no entanto, seguem sendo disputadas em diversos destinos, como o próprio Brasil.

As companhias dizem que o governo reteve milhões de dólares em procedimentos para o mercado local. “A Venezuela afirma que quer encorajar o turismo, mas ao invés de atrair visitantes, afasta-os”, afirma Julio Arnaldes, presidente da Associação Venezuelana de Operadores Turísticos.

O governo, por sua vez, está ansioso pelos novos projetos: “Nosso país dependeu do petróleo por muitos anos, mas agora veio o tempo do turismo para o desenvolvimento da economia”, afirmou o vice-presidente Tareck El Aissami em um evento na Ilha de Margarita em dezembro do ano passado.

Assessoria de Comunicação

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