03/12/2019 09h46
O último sábado de novembro foi marcante na vida dos operários da empreiteira que executou o cascalhamento de 40 km da MS-228, uma benfeitoria sonhada há décadas pelos pantaneiros da Nhecolândia, maior criatório de bovinos do Estado. Eles concluíram o último trecho – 240 metros – de uma obra, iniciada em março deste ano, que eliminou o areião e os alagados e integra importante região de pecuária e turismo do Pantanal.
“Foi uma jornada difícil, muito calor e mosquito, chegar ao final de uma estrada que deve significar muito para os fazendeiros. Eles passavam pelo trecho e elogiavam o nosso trabalho”, diz Ademar Oliveira, 52, enquanto espalha o resíduo de minério de ferro usado na obra com a motoniveladora. “Só saio triste daqui porque não consegui ver uma onça-pintada, mas vencemos esse areião com força”, afirma Juliano Chimenez, 23, operador de rolo compressor.
Concluído dentro do prazo, o cascalhamento dos 40 km da MS-228 teve investimentos de R$ 8,5 milhões pelo Governo do Estado, sem contar os recursos aplicados pela Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) na reforma das pontes de madeira. Foi implantado um aterro de 1,5 metro de altura, revestido com uma base de resíduos de minério transportados por até 90 km de uma jazida no distrito de Albuquerque, totalizando 250 mil toneladas de material.
O cascalhamento de 40 km da MS-228 pode significar pouco expressivo numa imensidão que é a planície pantaneira, porém tem um valor imensurável para quem produz na região e tinha dificuldades de acesso. Com uma fazenda localizada ao final desse primeiro trecho implantado pelo Governo do Estado, a centenária Alegria, o pecuarista Heitor Miraglia Herrera, 58, se emociona ao falar da chegada de uma logística cantada em verso e prosa.
“Quando vi aqueles caminhões com gado saindo da fazenda para o aterro da estrada senti uns arrepios e lembrei do meu pai, que sempre lutou, como todos da região, por melhor acesso”, conta o pantaneiro, sexto da geração dos Gomes da Silva que desbravou o Pantanal após a Guerra do Paraguai (1864-1870). “Passar por esse areião era uma epopeia, só carro de boi e trator. O governador (Reinaldo Azambuja) encampou nossa luta e está de parabéns”, acrescentou.
A Fazenda Alegria, fundada em 1919, um dos símbolos da ocupação da planície, comercializou pela primeira vez seu gado transportado por caminhão, na Feira Agropecuária do Pantanal (Feapan), em novembro, em Corumbá. “A saída do gado era muito difícil, só de comitiva, com perda de peso e valor, o frete era nosso gargalo. Agora o gado é embarcado na carreta, você chega fácil à cidade e essa mobilidade vai prosperar também o turismo”, cita Heitor.
Rota Pantaneira: fim do isolamento
Um dos principais trechos do tronco rodoviário do Pantanal projetado desde os anos de 1970 é a ligação da MS-228, a partir da Curva do Leque (entroncamento com a MS-184), com o centro da Nhecolândia. A estrada integra Corumbá com Rio Negro (232 km) e a Rio Verde (56 km do trevo da MS-427 com a MS-228), cortando a planície. Os 40 km com implantação de aterro e cascalhamento compreende o trecho Curva do Leque-Fazenda Alegria.
O governador Reinaldo Azambuja projeta a implantação de um eixo rodoviário que integrará os extremos do Pantanal com a rota turística Miranda-Bonito-Corumbá-Porto Murtinho. Seu governo já executou a implantação de 18,8 km da MS-228, entre a Vazante do Castelo e a Fazenda Imaculada (entroncamento com a MS-427), entre Aquidauana e Corumbá, e 34 km da MS-423, da Serra da Alegria (Rio Verde) a Fazenda Morrinho (Corumbá).
Outra frente de obra executa o mesmo serviço em 65 km das MS-228 e MS-423, entre as fazendas Picapau e Conceição, em Corumbá. Os investimentos na Rota Pantaneira ultrapassam R$ 40 milhões e está projetada também a implantação da MS-214, interligando os pantanais do Paiaguás e Nhecolândia, a partir de Coxim, até a ponte de concreto sobre o rio Taquari. Numa segunda etapa, será implantada a estrada que liga a região ao Porto Jofre (Poconé, MT).
Enquanto os operários trabalhavam na compactação do cascalho nos últimos metros da obra contratada na MS-228, era intenso o movimento de caminhões com gado em direção ao Leilão Novo Horizonte, o maior do Pantanal, situado próximo à estrada. As caminhonetes cruzavam o trecho a 100 km/h, quando, até recentemente, não avançavam além de 10 km/h. A melhoria dos acessos críticos já mudou a pecuária: o Pantanal passa a engordar e não apenas criar gado.
“Vai acontecer uma transformação, agregando valor à produção”, estima Luciano Leite, presidente do Sindicato Rural de Corumbá. “Não tínhamos nada de estrada, nenhum outro governo olhou por nós e temos certeza que o governador Reinaldo Azambuja vai fazer muito mais, agora que terá mais recursos do Fundersul”, pontua. Para Luciano, a ligação de 80 km entre as fazendas Alegria e Conceição, na MS-228, será a redenção do Pantanal.
O dirigente ruralista enfatiza, ainda, outra obra vital para escoamento da produção pantaneira, também em estudos pelo Governo do Estado: a ligação rodoviária da região do Paiaguás com Porto Jofre e o Porto do Alegre (Rio São Lourenço), a partir da ponte do Rio Taquari. “O ramal para o Porto do Alegre facilita o escoamento de gado por Corumbá, hoje feito de lancha. Quando enche, o gado não saí e o fornecimento às fazendas não chega”, completa.
O último leilão do ano realizado no Novo Horizonte, no sábado (30/11), refletiu o atual momento de otimismo que predomina na pecuária pantaneira com a melhoria da logística. Mais de seis mil animais da região foram comercializados, a maioria chegando ao leilão em caminhões. “Vejo esse aterro e o cascalho na 228 como um divisor de águas”, aponta o gerente da centenária Fazenda Lurdes (70 mil hectares, 20 mil cabeças de gado), Nicola Silva, 38.
“A melhoria das estradas encurtou o tempo a viagem de Corumbá a minha fazenda em sete horas. Isso é um ganho também para o nosso negócio, antes o intermediário vinha ver nosso gado de avião e hoje embarcamos os animais em caminhões com venda direta, sem o atravessador”, destaca o fazendeiro Leonardo Haas, 75, dono da Fazenda São José da Nhecolândia. “Essa estrada é um grande avanço, aqui era um areião sentido.”
Trafegando pela MS-228 desde menino, o pantaneiro Pablo Simões, 32, afirma que o fim dos atoleiros e alagados refletem em toda a região. Ele trabalha com instalação de energia solar e a família tem uma fazenda, a Quatro Cantos, a 180 km do trecho cascalhado da MS-228. “Essa obra ajudou bastante, era um dos pontos mais críticos. O aterro ficou excelente e minha viagem reduziu pela metade, tudo isso significa menos custo e mais conforto”, disse.
Os pantaneiros já contabilizam economia de frete em 25% com os investimentos do Estado. A chegada do boi aos leiloes ou frigoríficos em caminhões também agregou valor de carcaça e, com isso, todo o mercado se beneficia. “Há um aumento de consumo, com tendência de crescer, justamente pelo fácil acesso, barateando o frete. Tudo melhorou aqui”, analisa José Antônio Oliveira (Zé Pepe), 65, com comércio de insumos na beira da estrada.
Texto: Sílvio de Andrade – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)