Será que as mulheres têm uma especial tendência para a vanguarda comportamental? Embora seja difícil afirmar categoricamente que sim, há – na minha percepção – indícios desse pendor feminino, sobretudo quando se trata de posturas que vão otimizar esforços e trazer maior bem-estar. Esse é o caso da proposta de uma jornada de trabalho de quatro dias, sem redução de salário.
Uma pesquisa no Reino Unido, Be The Business, mostrou que as mulheres em cargos de liderança são as que mais veem a proposta com simpatia. Em uma reportagem do Financial Times escrita por Pilita Clark, a diretora-executiva da CMG Technologies, Rachel Garrett, contou que a empresa adotou a semana de trabalho de quatro dias em 2015 para os seus mais de 30 profissionais; a ideia era reter talentos. Como resultado, um aumento de 25% na produtividade e crescimento de 200% nos lucros. Ela acredita que a medida, embora não seja totalmente responsável pelo alto desempenho, contribuiu muito para ele.
A hipótese de que jornadas de trabalho mais curtas energizam os profissionais e que a produção por hora cresce está no cerne da defesa daqueles que são a favor dessa mudança. Em um momento de revolução tecnológica, no qual os trabalhadores estão esgotados – física e emocionalmente –, um fim de semana de três dias começa a ser considerado com seriedade. E, aqui, a pesquisa mostra que as mulheres em cargo de chefia são as que mais veem a proposta com simpatia: 64% delas contra 57% deles.
A reportagem traz, ainda, outro dado relevante da pesquisa conduzida pelo Chartered Management Institute: a faixa etária que mais responde afirmativamente à ideia de uma jornada de trabalho mais curta é a mais jovem. Quase 80% dos executivos seniores com idade inferior a 35 anos gostam da proposta ante 56% dos que têm 55 anos ou mais.
De qualquer forma, com homens ou mulheres defendendo a premissa, questionar o mundo do trabalho é essencial para construirmos uma outra sociedade. Questões como inclusão, gênero, dimensões da saúde mental dentro das corporações e lideranças são algumas das temáticas que passam por revisão e que têm mostrado que estamos longe de um ambiente corporativo perfeito. Questionar e revisar modos de agir é ir em direção a uma vida com mais reflexões e menos comportamentos automáticos.
| Lu Magalhães é presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.