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Crônica: Santana não é santo

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O escritor e filosofo italiano Umberto Eco disse em 2015 a célebre frase: “As redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.

Sete anos depois, percebemos que não são somente os imbecis que fazem uso indiscriminado dessa ferramenta, que deveria servir a algo de positivo.

Crônica: Santana não é santo

Mentirosos, preconceituosos, racistas, violentos e tudo o que há de pior no mundo fazem hoje das redes sociais o habitat, o esconderijo para a atuação covarde, de ataques, gerando a discórdia e o ódio.

Ariovaldo Santana Silva Neto, mais conhecido na pequena cidade onde mora, como seu Santana, é um sujeito de meia idade benquisto no lugar. Com seu cabelo acaju, pintado meticulosamente a cada 15 dias, seu Santana é frequentador assíduo das missas dominicais das 8 horas, 10 horas e 19 horas na Igreja Matriz, além de participar dos terços e vigílias em todos os dias santos.

Possui um considerável “pedaço de terra”, como costuma dizer aos amigos, principalmente os frequentadores de salões e clubes restritos do lugar, pessoas da mais alta estirpe. Casado com dona Flaviana há mais de 30 anos, tem dois filhos, um é advogado que trabalha em Brasília e o outro saiu de casa quando tinha 20 anos e virou Hippie, dizem que mora em São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Seu Santana, não gosta de mencionar sobre esse filho, prefere gabar-se do outro, que advoga para políticos de reputações duvidosas na capital do Brasil.

Porém, o sorridente e prestativo Santana se transforma quando se senta em frente ao seu computador e ao mesmo tempo apanha o seu celular toda noite, após assistir os principais telejornais em alguns canais de televisão.

Tanto em grupos do Facebook quanto do WhatsApp e Telegram, o homem desfere críticas e xingamentos a todos aqueles que discordam de seus pensamentos e ideologias sobre política, comportamento, religião e qualquer outro posicionamento que não seja aquele que o próprio Santana considera dentro da moralidade e integridade ilibada.

Os grupos nas redes sociais se transformam em campos de baixarias e ofensas, chegando até mesmo, a algumas ameaças de confrontos físicos por conta das divergências de pensamentos, graças, em grande parte, às disseminações de Fake News, pelo intolerante e incoerente Santana.

O pessoal não gosta das atitudes ofensivas e desrespeitosas de Santana nas redes sociais. “Velho babaca que acha que é o rei da cidade, só porque tem dinheiro e o filho advogado! ”

Entretanto, nas missas de domingo, o pessoal sorridente cumprimenta o seu Santana. “Homem bom! Inclusive já prometeu doar um leitão e uma novilha para a festa da Igreja desse ano”.

Por Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

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