Ontem uma aluna da UFGD perguntou-me: “Reitor, por quem batia aquele coração, hoje amarronzado e sem vida, de Dom Pedro I?”
Confesso que a pergunta me pegou de surpresa… Por quem batia aquele coração? O coração de “Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon” (sim, esse era o seu nome completo!) ou, simplesmente, Dom Pedro I, bateu por aproximadamente 36 anos (1798-1834). Mas, por quem batia?
Intimamente, certamente bateu por sua mãe, seu pai, suas filhas e seus filhos, suas esposas, seus familiares, pessoas próximas… Política, social e economicamente, certamente bateu mais pelas monarquias (primeiro portuguesa, depois brasileira) que pelas gentes do povo; certamente mais para os donos de escravizadas e de escravizados, que por gentes negras – muitas já brasileiras, muitas ainda recém-chegadas (ou traficadas) da África; certamente mais por bandeiras e por bandeirantes predadores de indígenas, que por gentes habitantes desta terra ainda antes do primeiro português aqui pôr o pé…
Aquele coração, portanto, Cara Aluna, batia por uma colonização violenta, escravizadora, latifundiária e monocultural, com sangue ainda hoje a se misturar a terras e territórios dilacerados. Aos poucos, mas quase sempre, o verde foi sendo derrubado e queimado, o amarelo serviu (ainda serve) para exportação e o azul a perder-se em um horizonte quase sem estrela alguma. Nesse movimento, foram muitos, milhares, milhões, os corações obrigados a cessar seus ritmos por concepções e práticas da morte, não poucas vezes, genocidas.
Assim, Cara Aluna, talvez seja importante, necessário e urgente, perguntarmo-nos também: por quem nossos corações batem? A resposta igualmente é difícil, no entanto, desafiadora.
Por quem nossos corações pulsam?
É sugestiva a ideia, Cara Aluna, de pensarmos juntos “Por quem nossos corações pulsam”, aqui, na UFGD! E acho que também podemos concordar, imaginando – e sentindo – nossos corações pulsarem juntos por uma Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade, Democrática, Autônoma e de Liberdade, abraçada aos Povos Indígenas, às Mulheres Todas, às Gentes de Quilombos e de Assentamentos, aos Coletivos de Ontem, de Agora e do Amanhã, enfim, misturadas Todas e Todos.
Corações, enfim, que Vivem porque o sangue de um é o sangue Comum, de um Brasil que se pensa, se quer, se faz, se almeja e se pulsa na Diversidade, na Pluralidade, pelo Antirracismo, pelo Antipatriarcado e no anseio por Antidesigualdades.
Que os corações da UFGD, então, pulsem juntos, juntos, juntos!
Por Prof. Jones Dari Goettert – Reitor da UFGD.
Independência 200 anos – Por um Brasil que pulsa
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