Felizmente, à medida que se aproxima o primeiro turno das eleições vão se dissipando as apreensões quanto ao risco de que a polarização das campanhas eleitorais nas redes sociais transborde para as ruas.
Ainda que no ambiente virtual o debate político-partidário e a discussão de ideias e propostas tenham sido, em grande parte, substituídos pela ‘guerra’ pretensamente ideológica, pelas desqualificações recíprocas, esse ambiente tóxico não tem, para o bem da democracia, desaguado em confrontos físicos entre grupos rivais, como se chegou a temer.
Embora não se possa descartar o risco de alguma violência episódica até o fim das eleições, é alentador constatar que a chegada das campanhas à televisão e ao rádio não despertou o ‘ânimo beligerante’ como muitos previam.
Campanhas eleitorais pacíficas, centradas na defesa de ideias e projetos, e presididas pelos valores fundantes da Nação, são pressupostos para que as eleições se confirmem como a essência da democracia, instrumento de legitimação da vontade livre do cidadão.
Assim, a constatação de que, pelo menos até aqui, as campanhas eleitorais dos diferentes partidos políticos tenham se desenvolvido de forma civilizada, como devem ser, projeta um cenário desejado pela grande maioria dos brasileiros: a livre discussão de ideias, a avaliação de programas e propostas, sempre pautadas pelo respeito mútuo, pela consciência de que aquele que pensa diferente de você pode ser seu adversário político, jamais seu inimigo.
A propósito, em artigo recente, que advertia para o risco de que a radicalização política nas redes sociais desandasse para violência política, observávamos:
“(…) para a esmagadora maioria dos brasileiros, que preza o diálogo respeitoso entre os divergentes como pressuposto essencial à estabilidade social e à própria democracia, é muito preocupante constatar que chegamos às vésperas de um pleito eleitoral de tamanha importância para o País sob o perigoso signo da divisão entre “nós e eles”. Como se o futuro do Brasil como nação próspera, pacífica e igualitária não fosse um projeto comum e generoso que deve nos irmanar a todos”.
Àquela altura nos juntávamos a um coro de vozes sensatas, que alertava para a ameaça potencial de que a deterioração do ambiente político-eleitoral virtual contaminasse o tecido social e a própria estrutura institucional do país.
Um mês e meio depois, e com a campanha eleitoral em pleno curso, é confortante, para todos nós que amamos o Brasil e prezamos a democracia, constatar que a radicalização política e as ‘afrontas ideológicos’ seguem restritas às redes sociais. O ideal seria que também ali imperasse um mínimo de racionalidade e de recíproco respeito entre os debatedores de diferentes espectros político-ideológicos. Mas seria esperar demais do que muitos chamam de “terra de ninguém”.
A menos de vinte dias do primeiro turno das eleições gerais, compete às lideranças políticas e aos que integram a cúpula das instituições republicanas reforçar o empenho e as precauções para a preservação da ordem social e da tranquilidade pública como pressupostos fundamentais para o livre e pleno exercício do voto.
Eleições periódicas constituem o cerne do regime democrático. Campanhas eleitorais civilizadas dão sentido e significado às eleições.
Que a sensatez e a ponderação permaneçam.
Por Iran Coelho das Neves – Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul.