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Depois do vendaval

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São formidáveis os desafios que nós, brasileiros, temos pela frente. A ponto de se deixar um pouco de lado a euforia ou desapontamento com o resultado da eleição e mergulhar rápido na realidade. Cada um trabalhando para viabilizar seus sonhos e superar obstáculos, mas ao mesmo tempo resgatando e curando o sentido coletivo de nação entre nós, pois os problemas colocados ao país, por nossa própria história ou pelo mundo, assim o exigem.

A realidade é áspera. Somos um país que nos últimos tempos, dez anos ou pouco mais, se revelou incapaz de promover um crescimento econômico consistente e alinhado com nossas necessidades demográficas e sociais. Na governança pública parece que também incapaz de planejar a longo prazo, ou cumprir planos quando existem, e igualmente falho na disciplina de seguir a trilha de um orçamento anual.

O nosso longo namoro com o desequilíbrio fiscal é um exemplo de nossa dificuldade ou esperteza com as contas públicas. Sem falar que, a julgar pelas estimativas de hoje, abriremos o próximo ano com um potencial buraco orçamentário de R$ 84 bilhões dependendo a conta, mas que poderá ser até 30% maior. Isso, considerando só as promessas da reta final da eleição, não previstas na Lei Orçamentária para 2023, que está no Congresso para aprovação.

Duas outras situações amargas de nossa realidade, e não é de agora: vimos surgir um país com milhões de famílias fadadas a viver de caridade pública, privada ou cidadã, escancarando a desigualdade; e parece que esquecemos a prioridade em investimentos para pesquisa, ciência e tecnologia, que no século 21 significam um passaporte para as inovações e para o futuro de que tanto precisamos. Duas coisas, enfim, que não podem dar em bom rumo.

Pode-se argumentar que nesse período houve pressões globais como crise do subprime nos EUA, questão climática, pandemia e guerra na Ucrânia, por exemplo. Pressões externas que até ajudam a entender, mas não explicam totalmente essas nossas heranças. No front externo, aliás, a conjuntura econômica poderá manter a pressão, já que previsões recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam crescimento do PIB mundial desacelerando em 2023.

Economias como a dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Índia e África do Sul podem diminuir seu ritmo de expansão. O mesmo podendo acontecer com a Zona do Euro, vista como um todo; e, também, para o conjunto da economia mundial. O próprio Brasil está na lista de desaceleração do FMI. Ou seja, temos a casa para arrumar e talvez em ambiente externo mais restritivo e, por tabela, mais competitivo.

Desafios gigantes, ambiente sociopolítico por harmonizar, motivação social por ativar e o fantasma da recessão em algumas economias importantes do mundo. Esse será o mergulho na realidade após o vendaval eleitoral. É claro que há outros desafios, e muitos. Mas se for possível equacionar caminhos de solução para os quatro citados neste artigo, seus ganhos serão relevantes no médio e longo prazo, inclusive para a solução de outros problemas.

De outro lado, nossas potencialidades são várias também. Como o agronegócio, bioeconomia, energia limpa, tecnologia aeronáutica e serviços culturais, entre outras áreas de expertise brasileira. Sempre lembrando: não existe economia forte e protagonismo internacional sustentável sem um mercado interno sólido e uma sociedade madura, consciente e coesa em torno de um grupo de objetivos e valores compartilhados. Essa é uma lição da história.

Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).

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