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Por que os ovários envelhecem tão cedo?

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O ovário é um órgão extraordinário que abriga os gametas femininos (óvulos) desde a vida intrauterina, mas por motivos ainda desconhecidos envelhece mais rapidamente que a maioria dos outros órgãos e sistemas do organismo feminino. Em geral, a menopausa (última menstruação) marca o evento final do processo de senescência ovariana que ocorre em média aos 51 anos. As alterações hormonais que culminam na falência ovariana, entretanto, começam anos antes. Como no Brasil em 2020, segundo o IBGE, a expectativa de vida ao nascer entre as mulheres seria de 80,3 anos, as mulheres passariam cerca de um terço da vida na pós-menopausa. Entre as várias teorias propostas para explicar a perda precoce da capacidade reprodutiva está a “hipótese da avó” que postula que em humanos, a menopausa liberaria as mulheres para apoiar a maternidade de mulheres mais jovens (filhas) cuidando dos netos.

O envelhecimento ovariano e a consequente perda da capacidade reprodutiva, todavia, começam muito antes da menopausa. Vários estudos mostraram que, em comparação com mulheres jovens, mulheres com mais de 35 anos de idade têm alteração da função ovariana com perda da quantidade e qualidade dos óvulos (reserva ovariana), além de chance maior de ter infertilidade, aborto espontâneo, complicações na gravidez e no parto, entre outros. O fato é agravado pela tendência mundial de adiamento da maternidade. Infelizmente, a perda da reserva ovariana coincide como o momento no qual muitas mulheres ainda desejam se dedicar a realização de outros projetos pessoais e profissionais. De acordo com diferentes estudos, o declínio na fecundidade feminina começa por volta do final dos 20 aos 30 anos e acelera após os 30 anos, especialmente entre mulheres que nunca tiveram filhos. Assim, aos 40 anos, quase metade das mulheres são inférteis. Dessa forma, o ovário perde num período curto a capacidade de “produzir bebês”, mas mantém sua produção hormonal por mais 15 a 20 anos até a menopausa.

Entre os possíveis mecanismos associados à senescência reprodutiva estão fatores ambientais, genéticos e relacionados ao estilo de vida como o tabagismo. Uma das principais vias implicadas no envelhecimento é o encurtamento dos telômeros, estruturas localizadas nas extremidades dos cromossomos. Tal encurtamento afeta a divisão celular levando ao envelhecimento e morte celular (apoptose). Estudos recentes revelam o papel dos telômeros no envelhecimento reprodutivo em homens e mulheres. Nos homens, os efeitos do envelhecimento sobre a capacidade reprodutiva são menos perceptíveis porque a espermatogênese (formação de espermatozoides) continua ininterruptamente vida do homem a partir da puberdade. Embora ainda pouco compreendido, o envelhecimento reprodutivo masculino parece envolver alterações nos telômeros.

Apesar de ser assunto frequente nos congressos e publicações científicas, não há métodos estabelecidos capazes de manter ou restaurar a perda da função ovariana que ocorre ao longo da vida. A maioria das intervenções ainda está confinada estudos experimentais em modelos animais, e essas estratégias ainda precisam ser testadas quanto à sua eficácia em humanos e os potenciais impactos na saúde materna e da prole. O desenvolvimento das Técnicas de Reprodução Assistida (TRA), como fertilização in vitro (FIV) permitiu uma melhor compreensão da fisiologia feminina e o surgimento de procedimentos diagnósticos e medicamentos para identificar e tratar desde distúrbios ovulatórios a doenças genéticas. É possível ainda postergar a maternidade por meio do congelamento de óvulos, que preferencialmente deve ser feito até os 35 anos para obtenção dos melhores resultados. Percebe-se assim, que apesar dos avanços tecnológicos, a idade feminina ainda constitui um entrave para as chances de gravidez. É fato que muitas mulheres conseguem engravidar espontaneamente após os 35 anos e os dados do IBGE revelam que aumentou em 56% o número de partos nas mulheres de 35 a 39 anos. Como até o momento, não há nenhum método capaz de medir com precisão a reserva ovariana muito menos a chance real de engravidar e ter um filho saudável, torna-se vital o reconhecimento dos limites biológicos e a educação da população e dos profissionais de saúde de modo que as escolhas reprodutivas sejam livres e esclarecidas.

 Por Márcia Mendonça Carneiro – Diretora científica Clínica de Reprodução Humana Origen,  Professora Associada – Departamento de Ginecologia Faculdade de Medicina – UFMG

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