Na década de 1970, um grupo de estudantes negros se reuniram para pesquisar a luta dos seus antepassados e questionar a legitimidade do 13 de maio, data da assinatura da Lei Áurea, como referência de celebração do povo negro. No lugar, sugeriam o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, para destacar o protagonismo da luta dos ex-escravizados por liberdade e gerar reflexão para as questões raciais. A semente plantada ali é um dos marcos da constituição dos movimentos negros e está na raiz do Dia da Consciência Negra.
Um diálogo imprescindível, que deve estar presente em todas as ações, mas que ganha palco neste mês é o racismo, o preconceito e a discriminação racial. Assim, é fundamental propor a importância de ocupar os espaços de discussão e que nossas práticas estejam voltadas à educação que promova o respeito à diversidade étnico-racial e cultural da sociedade brasileira cuja compreensão passa por um momento histórico de reconhecimento, tanto legal quanto politicamente, da presença das populações de origem africana na formação da nação.
Chamo a atenção para uma descolonização das nossas leituras, que por tanto tempo desprezaram os intelectuais negros, como o antropólogo e professor Kabengele Munanga, a deliciosa escrita de Chimamanda Adichie, da filósofa e ativista Sueli Carneiro que, em “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”, apresenta resultados da reducão das desigualdades trazidas pela diminuição da discriminação racial acontecida nos últimos anos.
O que dizer então da brilhante Elisa Lucinda, jornalista, poeta, escritora, atriz e cantora e fundadora do espaço cultural Casa Poema, no Rio de Janeiro, que sedia eventos relacionados a literatura, teatro e música. A jovem ativista Carla Akotirene (nascida Carla Adriana da Silva Santos, em Salvador), que tem se destacado no feminismo negro. Seu objeto de estudo é o que ela chama de interseccionalidade. O que dizer então de Carolina Maria de Jesus, escritora brasileira de pouca instrução que se destacou por seus relatos, em forma de diários, sobre sua dura realidade na favela? Ou ainda sobre a talentosíssima mineira, Conceição Evaristo , que nos choca e nos corta a alma com seus romances, contos e poesias?
Minha intenção aqui é a de que passemos a conhecer mais sobre o talento e a capacidade, sobre a representação e a potente construção de conhecimento, de arte e cultura que nos circundam e que foi subalternizada e silenciada, por vezes vilipendiada pela nossa gente. Assim, nada melhor que aproveitar nossos espaços de leitura para convidar, para indicar, para visibilizar tanta gente poderosa em seus escritos e que estão prontos para serem lidos. Já escolheu por onde começar? Eu vou de Chimamanda Adichie Nagozie, em Americanah, uma história de amor implacável que trata de questões de raça, gênero e identidade.
Por Anne Caroline Fernandes Alves – Professora Mestra e Pesquisadora do Curso de Direito da Estácio.