Jesus então contou: “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta te pagarei. Qual desses três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões?” Respondeu o doutor: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então, Jesus lhe disse: “Vai, e faze tu o mesmo” (Lucas 10, 30-37).
Compreender a fragilidade humana a partir de uma doença é ver-se nu diante de Deus, diante das pessoas, diante de si mesmo. Sentir-se frágil e finito, habitante de um corpo que, por ora, padece, é um caminho profundo de conversão e cura da alma, que nem sempre vem acompanhada da cura do corpo.
Assim como eu, talvez você já tenha se colocado nos vários papéis desempenhados pelas personagens da parábola do Bom Samaritano, e se questionou sobre qual seria a sua atitude. Mas, assim como eu, talvez você nunca tenha se colocado no lugar do doente espancado e abandonado.
Só me vi nesse papel após realmente me sentir assim. Doente, abandonada (nua) e espancada. O sentimento de abandono de Deus passou pela minha cabeça por um momento ao receber o diagnóstico do câncer. Vivi, ainda, o abandono das pessoas que não sabiam lidar com minha condição física e emocional. Então, sim, eu me senti como o homem à beira do caminho.
Mas que lindo foi e está sendo, em maior escala, ser acolhida, respeitada em minha fragilidade e amada, mesmo com minha pouca ou nenhuma condição de retribuição. O cuidado profissional é essencial, mas a acolhida, o afeto e a proximidade das pessoas é o que faz a nós, quando doentes, sermos capazes de nos olharmos nos olhos todos os dias e voltar a acreditar na luta, na cura do corpo (quando possível), na cura da alma (a mais importante) e em Deus.
Há quem, doente, prefira o isolamento por sentir-se melhor, envergonhado, ou por ainda estar aprendendo a lidar com tamanha carga emocional que o diagnóstico traz na bagagem. Mas isso não quer necessariamente dizer que essa pessoa queira ser esquecida, deixada à beira do caminho, eliminada de seu círculo de amizades e encontros com a família. Pelo contrário. Quanto mais frágil está a pessoa, mais ela precisa de oração e de cuidado. Ter compaixão, estar próximo, se colocar ao lado quando aparentemente você não pode fazer nada já é fazer muita coisa!
Digo sempre quando me perguntam sobre como agir com um parente ou amigo que está doente: seja você mesmo, trate bem e ame como gostaria de ser tratado e amado. É isso. Considere que a pessoa não está tratando apenas o corpo. Ela está tratando igualmente a alma. E essa alma é humana e continuará falha. Então, você precisa de um pouco mais de paciência com corpo e com a alma. Um pouco mais de acolhimento. Um pouco mais de disposição.
Não exija dela a perfeição. Não exija dela momentos sublimes de ressignificação do sofrimento o tempo todo. Para aquele que está doente, cada dia significa um dia de cada vez. E essa é a chave.
O esperado de tudo isso é que, obviamente, o corpo se restabeleça, e se recupere a ponto de ficar melhor do que antes. Mas convenhamos, por vezes, criamos expectativas ilusórias a respeito do processo da cura. Ela é importante e esperada? Sim. Mas as tantas outras curas que são vividas enquanto se busca a cura física já são mais do que suficientes para que aquele doente se torne uma pessoa melhor, assim como todos os que estão à sua volta. Podemos escolher nosso papel diante do sofrimento de alguém próximo. Qual será o seu?
Deus o abençoe!
Por Camila Carvalho Duarte – professora no Progen (Projeto Geração Nova), uma das Unidades da Rede de Desenvolvimento Social Canção Nova.