Arnaldo havia se tornado ateu em sua juventude, principalmente ao se interessar por filosofia e ler obras de Ludwig Feuerbach, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre, entre outros.
Esse ceticismo de Arnaldo se tornou ainda mais evidente, após a morte de seu pai, que lutou um bom tempo contra um câncer no intestino, e mesmo com toda a religiosidade de sua mãe, dona Odete, que não perdia uma celebração de domingo em sua igreja e orava praticamente o dia inteiro, pedindo a Deus a recuperação de seu marido, não foi o suficiente para o seu reestabelecimento, e ele veio a falecer, após um período de bastante sofrimento.
Para Arnaldo, a existência de um Deus onipotente, que tudo vê e tem o poder de interferir na vida das pessoas, não passava de uma invenção das próprias pessoas, pois a vida de cada um sempre será, da forma que tem que ser, não há interferências. Mesmo que muitos acreditem em um ser com poderes para que essa interferência aconteça, no final, sempre vai acontecer o que tem que acontecer.
Com o passar do tempo, Arnaldo continuou com os mesmos posicionamentos em relação a Deus e às religiões, porém, nunca criticou ou tentou impor suas opiniões às outras pessoas, principalmente àquelas que acreditavam e seguiam qualquer que fosse sua religião.
Arnaldo também sempre buscava ser cordial com as pessoas, sendo solícito com àqueles que mais necessitavam, porém, preferia manter-se discreto sobre suas ações.
Entretanto, recentemente, Arnaldo tem sido visto todo domingo, na celebração das 19 horas na igrejinha de seu bairro.
Algumas religiosas e religiosos mais ferrenhos não tem entendido e até achado estranho.
— Como pode! Um homem que se diz ateu assistir celebração religiosa?
— Vai adiantar nada ir na igreja, já que não acredita em Deus. Quem sabe é até pecado isso!
— Sacrilégio! Isso sim!
Outros religiosos conceituados na cidade estão até pensando em não frequentarem mais aquela igreja, caso o ateu continue comparecendo nas celebrações de domingo.
Até religiosos de outras agremiações acham a situação um disparate, um insulto ao cristianismo.
— Na minha igreja, esse sujeito não entraria. A menos que aceitasse Jesus!
Enquanto isso, Arnaldo continua ateu, porém, continua cordial com todos, respeitando a todos, e no domingo, acompanha sua mãe Odete até a igrejinha do bairro, já que devido à sua idade avançada, ela não pode mais ir sozinha para assistir à sua habitual celebração dominical.
Por Rodrigo Alves de Carvalho.