“Começou a me chamar a atenção o uso de moleton, e foi aí que eu vi que ela estava se automutilando e fiquei muito preocupada e com o comportamento de querer tirar a própria vida que tudo estava muito difícil para ela que as pessoas não entendiam ela.”
Gabriela é mãe de uma adolescente que hoje está com 13 anos. O comportamento que ela relata começou aos 10,11 anos — o que tem sido cada vez mais comum, segundo pesquisas. Ela buscou ajuda para a filha. O diagnóstico: depressão.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2018, de 517 jovens entre 10 e 14 anos, 9,48% apresentaram esse comportamento.
Outra pesquisa da UFF, a Universidade Federal Fluminense, financiada pela Faperj, sobre a Estruturação do Ego e da Personalidade de Adolescentes que se Automutilam, ouviu 61 jovens entra 10 e 16 anos. A pesquisa foi coordenada pelo doutor em psicologia Antônio Augusto Pinto Junior.
“A nossa pesquisa ela corrobora com dados de pesquisas internacionais que há realmente um aumento considerável que casos de autolesão por essa parcela da população e funciona muito como uma resposta ao que nós chamamos de experiência de adversidade precoce.”
Exemplo de adversidade precoce? Bullying e abusos que levam o jovem a se autolesionar, como reforça Karen Scavcini, do Instituto Vita Alere.
“Ele pode estar sofrendo bullying, cyberbullying, questões de abuso físico, sexual, ou de ele pode estar com alguma questão psiquiátrica não identificada ou não tratada como questões de humor, de alimentação, de personalidade a própria ansiedade e depressão.”
Antônio Augusto diz que existe sim uma correlação entre depressão e autolesão.
“Nós encontramos um índice de correlação em torno de 65%, então nos parece, isso para participar de um outro projeto de pesquisa, justamente compreender que a depressão ela pode estar diretamente associada aos quadros de autolesão.”
Ainda segundo o estudo da UFF, 88,5% utilizam objetos cortantes, como gilete, apontador e estilete. Prevalência de braços, mãos ou pulsos em 94,1% dos casos.
E como perceber que o adolescente está se autolesionando? Rodrigo Bressan, do Ame sua Mente, explica:
“Se tem os sinais mais genéricos, irritabilidade, mudança de comportamento, isolamento social e tal, às vezes maior rivalidade. Às vezes tem uma queda de performance na escola. Do ponto de vista mais específico são garotas ou garotos que cobrem o braço, cobrem as pernas mesmo num dia quente e que em geral se isola, por exemplo, fica lá meia hora no banheiro da escola ou numa situação assim dentro de casa.”
Em abril de 2019, foi criada a lei determinando a notificação compulsória de casos de autolesão e comportamento suicida, e que Institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio.
No site do Ministério da Saúde e do Instituto Vita Alere, você pode encontrar cartilhas sobre autolesão.
E como será que está a filha de Gabriela depois dos cuidados médicos e da família?
“Hoje ela já está bem mais feliz, mas sempre sendo acompanhada e monitorada para que não venha ocorrer casos mais graves, até tirar a própria vida.”
Na próxima reportagem, a gente fala sobre o papel de pais e escola.
Precisa de ajuda? Quer ajudar alguém? Anote ai: o Centro de Valorização da Vida no telefone 188 ou no site cvv.org.br. Procure os CAPs, Centros de Atenção Psicossocial, ou as Unidades Básicas de Saúde. Ou ainda, o site mapasaudemental.com.br que mostra o centro de apoio mais perto de você.
Fonte: Radioagência Nacional