Estudamos pouco as ONGs no Brasil. Sabemos que são 815 mil instituições sem fins lucrativos em todo o país (IPEA, 2020) e que geram 6 milhões de postos de trabalho, dos quais 2 milhões e 300 mil são empregos formais. É um dos setores da economia que mais dá oportunidade aos trabalhadores.
A pesquisa A importância do Terceiro Setor para o PIB no Brasil (FIPE, 2023), identificou que as ONGs acrescentam 4,27% à economia brasileira, e observou que isso representa 6 milhões de postos de trabalho, dentre diretos e indiretos.
Já o estudo Fundações e Associações Sem Fins Lucrativos (IBGE, 2016) mostrou que são 2 milhões e 272 mil pessoas trabalhando com vínculo de emprego no setor, em todo o país, em especial nas instituições de educação e de saúde, as maiores empregadoras dentre as sem fins lucrativos.
Esses são dados públicos e, de forma geral, já conhecidos por quem acompanha estudos e números sobre as ONGs brasileiras.
O que não se conhecia até hoje é quais são as organizações filantrópicas que mais empregam no país, ou seja, para quantas pessoas cada uma delas oferece oportunidade de renda. Agora já sabemos.
O Mapa das OSCs, uma plataforma federal mantida pelo IPEA, traz o número de vínculos de empregos por organização. A referência do Mapa é a Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, que é apresentada em uma planilha com 815 mil linhas, uma por ONG.
Uma primeira análise a planilha nos permite algumas descobertas importantes sobre os empregos oferecidos pelas ONGs:
1 – Temos informações sobre os números de vínculos de emprego de somente 362 mil delas. Não sabemos se as demais 453 mil instituições contam com funcionários, e quantos seriam. É possível, portanto, que o total de 2 milhões e 300 mil esteja subdimensionado.
2 – Das que temos informações, quase 80% delas não emprega ninguém. Ou seja, somente 1 em cada 4 das ONGs brasileiras conta com pelo menos um funcionário. Ter 50 ou mais vínculos de emprego é um privilégio de apenas 2% das instituições sem fins lucrativos.
3 – Das 815 mil organizações listadas, 100 mil delas têm CNPJ de filiais, e não são independentes. Isso significa que, do ponto de vista jurídico, o Brasil conta na verdade com 715 mil instituições sem fins lucrativos.
Após os achados iniciais o próximo passo foi estudar a lista para identificar quais são as ONGs que efetivamente mais empregam no país.
Apenas elaborar um ranking por número de vínculos de emprego não seria possível porque, como já informado acima, na lista estão presentes filiais das instituições. Por isso, realizamos uma análise tendo como base as 50 organizações que apareciam como as com mais vínculos, e somamos os números de empregos disponibilizados por elas e por suas filiais.
Com isso, a lista das 30 ONGs que mais empregam no Brasil ficou a seguinte:
Como pode se ver, a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina aparece em primeiro lugar, gerando 44 mil empregos em todo o país. É a ONG que mais emprega e, sem dúvida, também uma das instituições privadas que mais oferece oportunidade de empregos, quando comparada com as empresas.
Em segundo lugar vem a Casa de Saúde Santa Marcelina, com 13.901 empregos, seguida de perto pelo Hospital Albert Einstein, com 13.095 vínculos, Fundação Faculdade Medicina, com 11.482, e Santa Casa de São Paulo, com 9.720.
Outras curiosidades sobre as 30 ONGs que mais empregam são:
- 22 delas são associações e somente 8 são fundações;
- 18 das 30 organizações são da saúde, inclusive as cinco primeiras, a área que tem de longe a maior participação;
- as 30 maiores empregadoras do setor somam 244 mil vínculos, cerca de 11% do total de vagas do setor inteiro;
São números interessantes e que nos permitem ter uma visão mais completa sobre o setor sem fins lucrativos do país.
Ainda que pouco conhecido, o também chamado “terceiro setor” não somente é bastante representativo na econômica brasileira e um dos maiores empregadores, como suas instituições são, elas mesmas, grandes geradoras de trabalho e renda.
Não à toa, devemos cada vez mais olhar as ONGs para além do impacto positivo que geram na sociedade, entendendo-as como motores da economia e um dos setores que mais gera riqueza para o país, com muito valor econômico.
Ao estimular a formação e crescimento das ONGs o Brasil ganha duas vezes: com o impacto delas e na economia. É um jogo de ganha-ganha, não dá para perder.
Por: João Paulo Vergueiro – professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e diretor para a América Latina e Caribe do GivingTuesday.