As mulheres brasileiras têm engravidado cada vez mais tarde e a chegada do primeiro filho depois dos 30 anos é um fator de risco para o câncer de mama gestacional (CMG).
Maria Antônia José Peixoto, de 42 anos, mora em Bonfinópolis, Minas Gerais, mas teve o seu filho, Levi, no Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh). O diagnóstico do câncer de mama veio junto com a surpresa de saber que estava grávida.
“Percebi um nódulo na minha mama direita e fiz uma mamografia que mostrou a presença de algo suspeito. Logo em seguida, em dezembro de 2022, fiz uma biópsia que confirmou o diagnóstico de câncer de mama e no mês seguinte eu soube que estava grávida”, detalha Maria Antônia.
“Minha angústia principal eram as duas coisas: a segurança do bebê e a minha saúde. Eu sabia que tinha um tratamento longo para fazer e quanto mais cedo eu iniciasse melhor seria”, acrescenta Maria Antônia.
A ocorrência de câncer de mama e gestação é um desafio maior em relação a terapia ideal para a mãe e o bem-estar do feto.
A ginecologista e obstetra do HUB, Rita de Cássia Corrêa, que acompanhou a gravidez de Maria Antônia explica que “foram escolhidas drogas quimioterápicas menos perigosas ao bebê e o início do tratamento só ocorreu após o primeiro trimestre”.
Maria Antônia relembra que inicialmente foi considerada a hipótese de ser realizada a cirurgia primeiro, mas, logo em seguida, uma equipe médica composta por profissionais da ginecologia e obstetrícia, da oncologia e da mastologia do HUB se reuniu e discutiu o que seria melhor para ela e o bebê.
“Foi aí que ficou definido que iríamos começar pelas quimioterapias após as 12 semanas, que seria o momento em que ele estaria mais formadinho. Eu fui acompanhada ainda por psicólogo, psiquiatra e nutricionista, porque desenvolvi diabetes gestacional”, revela a mãe do bebê de 28 dias.
1 a cada 3000 mulheres grávidas podem ser diagnosticadas com câncer de mama durante a gravidez. Embora pouco frequente ele é o tipo de tumor maligno mais comum na gravidez e o que mais causa morte relacionada ao câncer em mulheres grávidas ou lactantes.
A mastologista e preceptora da residência médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS/Ebserh), Raquel Rodrigues, explica que apesar do efeito protetor a longo prazo, a gravidez em si pode aumentar transitoriamente o risco de uma mulher desenvolver esse tipo de câncer.
“O risco se torna mais presente quando a mulher opta por atrasar a gravidez, visto que a idade média de maior incidência de câncer de mama gestacional ocorre em mulheres entre 32 e 38 anos. Portanto, a combinação em adiar a gravidez para uma idade mais avançada aliada ao aumento geral na incidência mundial de câncer de mama têm levado a um aumento dos casos de câncer de mama gestacional ao longo das últimas décadas”, avalia a médica.
De acordo com o mastologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), Juliano Cunha, por muitas vezes o diagnóstico do CMG pode se apresentar de forma mais desafiadora pois durante a gravidez as mamas sofrem muitas alterações naturais, tornando-se mais densas e frequentemente mais sensíveis ou doloridas.
“Estas mudanças normais podem mascarar ou confundir os sintomas iniciais do câncer de mama. Muitas vezes, as mulheres atribuem qualquer mudança no tecido mamário à gravidez, retardando a busca por avaliação médica”, comenta o mastologista.
Massas mamárias que persistam por mais de duas semanas e nódulos suspeitos ao exame de imagem devem ser biopsiados independentemente da idade gestacional ou da mulher estar amamentando, já que, a mamografia de diagnóstico não é contraindicada nem na gestação nem na lactação e, quando associada ao ultrassom de mamas, pode colaborar de forma decisiva no diagnóstico das lesões mamárias.
“É crucial que as mulheres grávidas prestem atenção a qualquer mudança nas mamas que pareça incomum ou persistente e consultem o médico imediatamente pois detectar o câncer precocemente pode melhorar significativamente os resultados do tratamento”, acrescentou o médico, Juliano Cunha.
A abordagem para tratar o câncer de mama durante a gravidez pode variar, mas fatores como o estágio do câncer, trimestre da gravidez, saúde geral da mãe e os desejos da paciente devem ser considerados.
“É preciso estar atento a todas as condições médicas que possam influenciar no tratamento e observar quão avançado é o câncer, se ele se espalhou para outras áreas. Certos tratamentos podem ser mais seguros em determinados trimestres, mas as preferências e preocupações da mãe são centrais na tomada de decisões”, afirma o médico, Juliano Cunha.
“O tratamento para câncer de mama gestacional consiste em “cirurgia sempre, quimioterapia após a 13ª semana de gestação, radioterapia e terapias alvo somente após o parto”, finaliza a mastologista do Humap, Raquel Rodrigues,
Fonte: Comunicação