Vida financeira e dinheiro é um tabu em nossa sociedade e muitas famílias tratam desse assunto muito reservadamente, quase sempre, longe dos filhos. Mas, neste mês dos Pais, que tal fazer diferente e, em vez de ganhar um presente, dar um presentão para as crianças ajudando-as a entenderem o valor do dinheiro. Aprender as noções básicas das finanças desde cedo vai ajudá-las a administrar melhor esse recurso ao longo da vida.
Por isso, quanto antes o tema estiver presente no dia a dia da relação entre pais e filhos, maiores as chances de preparar as crianças para o momento em que tiverem que lidar com seu próprio dinheiro. Veja algumas dicas de quando e como puxar esse assunto com crianças de qualquer idade, de um jeito lúdico e divertido.
Dos 3 aos 7 anos: aprender brincando
A criança dessa faixa etária vive o momento presente e não consegue antecipar os eventos no tempo, tem muita dificuldade de esperar e abrir mão de sua satisfação no presente para obter algo melhor depois. Além disso, ela ainda não entende o valor das notas e moedas.
Você pode testar essa compreensão, pedindo para ela escolher entre duas notas de R$ 10 ou uma de R$ 50. Muitas irão escolher as duas de R$10, porque, em sua compreensão concreta do mundo, entendem que duas folhas de papel valem mais do que uma. Elas ainda não conseguem abstrair o valor de cada nota.
Por isso, nessa idade é preciso ensinar o valor do dinheiro por meio dos recursos que elas conseguem ver e tocar, como seus brinquedos, suas roupas, o alimento que comem, a água que bebem e a luz que ilumina os ambientes. Crie jogos para ajudar a criança a economizar e cuidar bem dos recursos a seu redor. Em vez de gritar com seu filho para tomar um banho rápido, coloque uma música e desafie-o a terminar o banho antes que a música acabe, lembrando de lavar bem as orelhas. Essa dinâmica irá criar o hábito de acelerar o processo, sem gritaria ou castigo.
Criar brinquedos com sucata, como embalagens, pedaços de papelão e garrafas PET, além de ser um ótimo passatempo em família, pode ser uma excelente maneira de mostrar a importância do consumo consciente, da reciclagem e de dar um novo uso mais criativo ao que já temos, em vez de comprar novas bugigangas que irão demorar um tempão para se decompor na natureza.
Outra dica é convidar a criança a preparar um bolo e mostrar a ela que é preciso esperar para fazer o bolo crescer, ou ele não ficará saboroso. Futuramente, você poderá usar esse exemplo para lembrá-la que o dinheiro também precisa “crescer” antes de ser usado, por isso poupamos antes de gastar.
Dos 8 aos 12 anos: ensinar pelo exemplo
Nesta faixa etária, as crianças aprofundam sua construção simbólica e abstrata com o mundo, por isso, já começam a entender melhor o valor do dinheiro e já estão conectadas com o mundo digital. É uma ótima fase para criar uma conta e depositar pequenos valores semanalmente para comprarem merenda e guloseimas.
Também já têm uma noção melhor do tempo, por isso vale a pena convidá-las a pensar sobre seus desejos, definir um prazo para alcançá-los e construir estratégias para obter o dinheiro necessário para essas conquistas. O famoso “porquinho” pode ser substituído pela conta digital e vale a pena mostrar que quando a criança separa um pouquinho do que recebe para poupar, esse dinheiro rende e pode ajudá-la a comprar o que deseja.
Outro ponto muito importante nessa fase é que a criança irá acentuar seu senso de justiça e começar a fazer julgamentos de valor, portanto, de nada adianta dizer a ela sobre a importância de poupar, se você, adulto e responsável que convive com ela, não está poupando seu dinheiro. Ela irá perceber e apontar as incoerências sem a menor cerimônia.
Essa é a hora da verdade, em que o seu exemplo fará toda a diferença no futuro dessa criança. Se ela vir os pais ou responsáveis conversando abertamente e harmoniosamente sobre dinheiro, planejando a realização de seus sonhos, abrindo mão de prazeres imediatos em prol de suas conquistas futuras, fique certo de que ela irá absorver essas lições com muita facilidade.
Mas, se ela tiver que fazer isso e perceber que você não está fazendo, irá questioná-lo e confrontá-lo sobre isso. Portanto, atenção ao seu comportamento nessa fase.
Outra lição importante para essa idade é convidar a criança a colaborar com as atividades em família, formularem juntos a lista de compras e pesquisarem preços no supermercado, priorizando as necessidades acima dos desejos.
Dos 13 aos 17 anos: chamar a responsabilidade
Na adolescência, os jovens buscam se firmar como indivíduos e negam a infância, têm vergonha de serem comparados a crianças. Têm um desejo forte por independência e por tomar suas próprias decisões. Alguns já começam a ter contato com o mundo do trabalho e obtêm renda fixa ou temporária.
Por outro lado, embora queiram ser tratados como adultos, ainda são imaturos e sua efervescência hormonal traz muita instabilidade nas emoções e impulsividade nas decisões. Muitos acabam cometendo excessos no consumo de alimentos, jogos, internet e até drogas, para preencher seus vazios.
É o momento de chamar esses jovens à responsabilidade, convidando-os a conversar e propor ideias para reduzir os gastos ou aumentar a renda da família, a fim de fazer sobrar dinheiro para alcançar seus sonhos próprios ou atingir os objetivos familiares. Eles podem ajudar na gestão das finanças da casa ou até realizar atividades extras remuneradas para começar a aprender a gerar dinheiro. Por exemplo, se a família está precisando pintar a casa e iria pagar um profissional para isso, pode oferecer ao jovem a oportunidade de colaborar com essa tarefa e ganhar um valor extra para seus gastos pessoais.
Outra ideia é desafiá-los a poupar uma parte do que recebem semanalmente ou mensalmente e incentivá-los a manter essa disciplina oferecendo um “bônus” no final do ano equivalente ao valor poupado. Por exemplo, se o jovem recebe R$ 20 por semana e poupar R$ 5 de tudo que recebe, irá poupar R$ 260 no total até o final do ano.
A família pode incentivar dizendo que irá “dobrar” o valor que ele conseguir poupar como presente de Natal. Então, ele conseguiria juntar R$ 520, além dos juros recebidos ao longo do ano. Isso pode ser um ótimo incentivo para ampliar sua disciplina.
Em qualquer idade: as principais dicas para ensinar finanças para os filhos
#1. Não é não
Isso significa que, se a família está sem dinheiro para comprar algo, pode e deve dizer não a seus filhos, para que eles aprendam desde cedo a lidar com a frustração.
#2. Limites são importantes
Se a criança recebe um valor regularmente e decidir gastar tudo em um dia, ela terá que esperar até o próximo recebimento. Assim, ela irá aprender a administrar o dinheiro ao longo do tempo. Se você repor o dinheiro toda vez que ela gastar, perderá a chance de ensiná-la a lidar com o limite do salário, do cartão de crédito, do cheque especial, entre outros limites que ela irá encontrar na vida adulta.
#3. Cuidado com a internet
Procurem monitorar, bloquear e filtrar apps de jogos e compras online e não compartilhem cartões ou senhas, para evitar que seus filhos usem façam compras ou gastem em seu nome. Retire meios de pagamento automáticos das contas compartilhadas pela família, pois isso pode levar a prejuízos financeiros significativos na sua conta.
#4. Obrigação não deve ser remunerada
As tarefas do dia a dia de responsabilidade da criança não devem ser remuneradas, ou seja, ela deve saber que arrumar o quarto, lavar a louça, guardar seus brinquedos e roupas no armário são suas obrigações e não devem ser negociadas. Caso contrário, você criará um mercenário que não faz nada se não for pago por isso.
#5. Envolva as crianças desde cedo
A economia da casa é responsabilidade de todos, por isso vale a pena chamar as crianças a participar e colaborar com ideias e ações para que todos ganhem e possam realizar seus sonhos em família.
Fonte: Febraban