*Cesar Eduardo da Silva
As manchetes avisam que faltam profissionais no mercado. Então, por que a taxa de desemprego aumenta? Porque sobram amadores. Como exemplo clássico, apresento Fernandinho, um profissional com diploma universitário, duas pós-graduações, desempregado e que não aceitava um salário menor que o anterior.
Ele decidiu fazer uma terceira pós-graduação, para se atualizar. Procurou o melhor custo-benefício – segundo seu raciocínio, seria o que “caberia em seu bolso” –, que tivesse uma ementa completa e fosse de uma boa instituição. O mercado queria aquela “atualização”? Por que ele usava critérios diferentes do mercado?
Segundo o professor de Educação Física especializado em Treinamento de Alto Rendimento Márcio Atalla, o atleta amador acha que quanto mais volume e frequência de treino ele tem, melhor ele será. Atalla observa que os amadores consomem muito mais suplementos do que os profissionais, pois costumam acreditar em notícias e informações sem embasamento.
Na academia da Vila Olímpica, afirma Márcio, os atletas que faziam os treinos mais malucos eram aqueles “profissionais” com zero chance de medalha, de países sem nenhuma tradição naquele esporte. São esses os que acreditam em um treino milagroso. Quem deixa de usar o raciocínio crítico passa a acreditar em fórmula mágica, e, atenção, isso não serve só para os esportes.
“Feito é melhor do que perfeito” é ótimo para sair da inércia, mas esse raciocínio apenas te inicia no mundo dos amadores. Para evoluir a um nível profissional, são necessárias muitas rodadas de melhoria. O que diferencia o profissional do amador?
O foco no que todos estão fazendo vai te levar para onde está a manada: o profissional sabe aonde quer chegar, mas foca no processo; o amador foca o resultado. O profissional celebra pequenas vitórias e aprende com os erros; para o amador só o atingimento da meta final deve ser comemorado, e cada erro o envergonha. O profissional sabe que deve vencer a si mesmo todos os dias; o amador não sabe quem deve vencer. Pelo discurso, às vezes é difícil distingui-los, no entanto, você identifica um profissional pelos resultados.
Em um panorama onde a demanda por profissionais é alta, a paradoxal elevação da taxa de desemprego revela a presença predominante de amadores no mercado de trabalho. O exemplo de Fernandinho, com múltiplos diplomas e posturas inadequadas diante das exigências do mercado, ilustra como a busca por qualificação muitas vezes diverge das reais necessidades da indústria.
O paralelo com o universo esportivo, apresentado por Márcio Atalla, ressalta que o amadorismo transcende setores, destacando a tendência de adotar abordagens irrefletidas e soluções rápidas em vez de um comprometimento sério com o desenvolvimento profissional.
A diferenciação crucial entre o profissional e o amador reside no enfoque no processo versus o resultado imediato, na celebração das pequenas vitórias e aprendizados contínuos em contraste com a obsessão pela meta final. Em última análise, o verdadeiro profissional se destaca pelos resultados tangíveis, enquanto o amador se perde na superficialidade dos discursos e na falta de compreensão sobre quem realmente precisa vencer: a si mesmo, diariamente.
—
*Cesar Eduardo da Silva é especialista em inovação de processos e produtos e autor do livro “Cientista Industrial”.