O filme “Divertida Mente 2” estreou nos cinemas brasileiros no dia 20/6, sendo continuação do longa lançado em 2015. A animação usa personagens coloridos e engraçados para demonstrar de forma bastante lúdica o que acontece no cérebro de uma pessoa enquanto ele cresce e descobre as emoções.
“Ao transformar emoções em personagens de desenho animado, a Disney/Pixar abriu ao grande público a possibilidade de refletir mais sobre elas, e conhecê-las melhor. O filme é educativo não só para crianças, mas também para adultos. A sequência é uma animação que foge do superficial, e lida com temas importantes como luto, despedidas e ressignificação de lembranças”, afirma a psicanalista Andrea Ladislau.
A personagem principal, assim como nós adultos, desde pequena é guiada por suas emoções – alegria, medo, raiva, nojo e tristeza. Agora no novo filme ela começa a aprender a lidar com novas emoções, surgidas com a puberdade: inveja, ansiedade, vergonha e tédio. Além disso, há a nostalgia que se materializa em momentos específicos.
“Esses personagens assumem o painel de controle dentro da mente e ajudam a tomar decisões no dia a dia, conflitando sobre a melhor forma de navegar em um turbilhão de acontecimentos que vão acontecendo com o desenrolar da história”, diz Andrea.
Lições de Divertida Mente 2
Conforme a psicanalista, o filme deixa muitas lições ao público. “Talvez uma das principais seja compreender que, em um mundo cheio de emoções, não devemos nos esquecer da importância de reconhecer e valorizar todos os nossos sentimentos, além de aceitar nossas emoções, mesmo as mais difíceis”, diz. Nesse sentido, é importante buscar equilíbrio emocional, a compreensão dos gatilhos para a ansiedade e buscar apoio.
“A representação de uma crise ansiosa e o reconhecimento da ‘Alegria’ que, percebe que em muitos momentos é preciso deixar a ‘Tristeza’ assumir o controle, talvez tenha sido o ponto alto da narrativa. E ainda, a sensação de receber um abraço, em meio a uma crise ou mesmo um ataque de pânico, deixa claro que melhora muito nossos níveis de oxitocina, substância que reduz o estresse, além de contribuir para a redução e controle da ansiedade”, aponta Andrea
Além disso, Divertida Mente 2 mostra que emoções reprimidas não ajudam no autocontrole. “E para termos senso de si e convicção de quem somos, é preciso se permitir chorar, ter medo, inveja, vergonha ou raiva, tudo dentro de um limite saudável e sem exageros ou excessos”, destaca a profissional.
Basicamente, segundo a psicanalista, é preciso estar atento ao que nossa emoção nos sinaliza. Por exemplo, sentir raiva quando alguém invade nosso espaço, indica a necessidade de se defender. Experimentar tristeza diante de perdas é importante para elaboração do luto, e assim por diante.
“Enfim, o filme Divertida Mente 2 representa a relação de cérebro e mente de uma forma lúdica e compreensível. Enquanto humanos, é apenas natural sentirmos todas as emoções. Afinal, todas são necessárias, até mesmo as que categorizamos como “ruins”, possuem o lado positivo”, destaca Andrea.
Ansiedade: a nova personagem da animação
No novo longa, uma personagem surge prometendo agitar as coisas dentro da cabeça da protagonista: a ansiedade. Apesar de ser representada como um pequeno ser laranja, o desenho animado nos ajuda a entender melhor como a ansiedade age no nosso corpo, explica o médico psiquiatra Flávio H. Nascimento.
“É preciso entender que a ansiedade é um processo natural do corpo humano, desenvolvido ao longo da evolução humana para a nossa sobrevivência, o grande problema surge quando ela se torna excessiva”, alerta.
Segundo o médico, a melhor forma de identificar quando a ansiedade está “passando do ponto” é observar os impactos dela no seu dia a dia e nas suas tarefas rotineiras.
“Os sintomas de ansiedade, seja ela normal ou patológica, variam apenas na frequência e intensidade. Enquanto a ansiedade normal surge em momentos de perigo real ou ameaças imediatas, a patológica se manifesta em situações cotidianas, com uma intensidade maior que pode causar outros problemas e afetar a saúde mental e física do indivíduo”, explica Flávio.
Quando a ansiedade se torna patológica, ela gera sintomas muito característicos, como aponta o psiquiatra:
- Preocupação excessiva sem motivo plausível;
- Inquietação ou sensação de estar “no limite”;
- Fadiga excessiva;
- Dificuldade de concentração;
- Irritabilidade;
- Tensão muscular;
- Distúrbios do sono.
Por outro lado, para manter a ansiedade sob controle, é importante adotar algumas medidas de contingência. Nesse sentido, o médico indica cuidar da dieta, do sono, equilibrar o trabalho e o lazer, e praticar exercícios físicos.
“Mas quando há histórico negativo em relação à ansiedade, é importante buscar ajuda profissional através das terapias comportamentais e uso de medicamentos, que sempre devem ser indicados por um especialista”, finaliza o especialista.