Chegamos em 2022, dois anos de pandemia – mais de 700 dias de incertezas, mudanças constantes, fortes questões políticas e socioeconômicas. Na prática, uma grande avalanche de emoções em um período que nos fez perceber na pele o quanto negligenciamos a saúde da mente há muito tempo. Mais do que a constatação, uma pergunta persiste: a saúde da mente é uma questão coletiva ou somente individual? Essa é uma reflexão social muito importante; anos antes da pandemia da Covid-19, já era possível enxergar os reflexos da vida moderna na saúde mental da humanidade, em especial de nós brasileiros.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde de 2017 apontava que 322 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com depressão, a maioria mulheres. E que um a cada três seres humanos convive com distúrbios relacionados à ansiedade. Este mesmo relatório alertava para o fato de o Brasil ser o campeão mundial em casos de ansiedade e o primeiro em ocorrências de depressão da América Latina. Na prática, ocupamos postos em um ranking muito preocupante!
Há aproximadamente 40 anos, os manicômios ainda eram estabelecidos no Brasil, onde pacientes eram internados por tempo indeterminado e submetidos a práticas desumanas. Por incrível que pareça, as práticas terapêuticas manicomiais voltaram a ser utilizadas e, desde 2019, são frequentes, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS), e respaldadas por movimentos políticos, mostrando que ainda estamos longe de torná-las inexistentes; por isso, ressalto a importância de movimentos como a luta antimanicomial.
O reconhecimento da relevância da saúde da mente para a vida da humanidade é evidenciado pela sua inclusão como parte da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A agenda promovida pela Organização das Nações Unidas em 2015 apresenta explicitamente em seu Objetivo 3.4 os compromissos de reduzir a mortalidade por doenças não transmissíveis através da prevenção e tratamento e promover a saúde mental e o bem-estar. Em 2018, foi lançado o Movimento de Saúde Mental Global, no qual as ações têm contribuído para qualificar a dimensão da negligência global dos efeitos sociais dos transtornos mentais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), diversos fatores podem colocar em risco a saúde da mente dos indivíduos; entre eles, rápidas mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, violência e violação dos direitos humanos. A promoção da saúde da mente envolve ações que permitam às pessoas adotar e manter estilos de vida saudáveis, tendo em vista os principais fatos citados abaixo:
- A saúde da mente é mais do que a ausência de transtornos mentais.
- A saúde da mente é uma parte integrante da saúde; na verdade, não há saúde sem saúde mental.
- A saúde da mente é determinada por uma série de fatores socioeconômicos, biológicos e ambientais.
- Estratégias e intervenções de saúde pública e intersetoriais são de extrema importância para promover, proteger e restaurar a saúde mental.
Nesta base, a promoção, proteção e restauração da saúde mental podem ser consideradas como uma preocupação vital dos indivíduos, das comunidades e sociedades em todo o mundo. A cada ano, os baixos níveis de informação e a falta de acesso a tratamentos para depressão e ansiedade levam a uma perda econômica global estimada em mais de um trilhão de dólares, segundo a OMS. O estigma associado a esses transtornos da mente também permanece elevado.
Nós, do Instituto Bem do Estar, acreditamos que a saúde da mente é algo que deve ser falado, compartilhado e debatido por todas as pessoas – até que vire parte do cotidiano. Com este objetivo, nossas ações englobam conscientizar, conectar e mobilizar as pessoas sobre a saúde da mente. Afinal, a saúde da mente é uma questão coletiva e não apenas individual e que deve ser vista por um olhar sistêmico. Seja bem-vindo ao Janeiro Branco de 2022, mês da conscientização à saúde da mente! Acesse: www.bemdoestar.org/janeiro-branco-2022.
Por Isabel Marçal – especialista em gestão de projetos sociais, com 15 anos de experiência no setor de Impacto Social e está cursando psicanálise. Apaixonada pela vida, pelos seres humanos e suas relações, ela sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano. Atualmente é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar.