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Campo Grande

Crônica: Pisando nas pessoas sem dó

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Joceleide conheceu Liam num baile de Carnaval no clube operário da cidade. A morena com seu sambar envolvente conquistou o gigante suíço que não conseguia tirar os olhos dançantes de seu requebrar e sorriso despretensioso. O gringo estava no Brasil ministrando cursos em uma fábrica na cidade e logo estava apaixonado por Joceleide. Menos de dois meses e os dois partem para Madri, na Espanha, onde Liam tinha uma enorme residência.

Joceleide por um tempo, procurou algum tipo de ocupação no país europeu, se sentia uma inútil sendo sustentada (e muito bem sustentada) pelo namorado, mas, como viera de uma família pobre e não tivera a oportunidade de completar nem o segundo grau, não tinha muitas opções de trabalhos, principalmente, que seu companheiro concordasse que ela exercesse.

Foi numa danceteria brasileira que Joceleide foi descoberta em Madri, quando seu requebrar e seu carisma lhe renderam um contrato como dançarina do local.

Joceleide ganhou muito dinheiro, conheceu muitas pessoas, se separou de Liam, se envolveu com outros namorados, trabalhou em outras áreas, se tornou independente e doze anos depois, voltou para sua cidade.

— Dona Glória. A senhora ficou sabendo quem voltou pra casa da dona Marivalda?

— Sim. A filha dela que estava lá na Europa. A Joceleide. Ouvi falar que ela está podre de rica…

— Como será que ela ficou rica?

— Tem uma prima dela que contou para o irmão do meu genro que ela subiu na vida lá na Espanha, pisando nas pessoas!

— Verdade?

— É. Falaram que ela ganhou muito dinheiro depois que começou a pisar sem dó em gente que até ajudaram ela quando chegou lá na Espanha.

— Minha nossa! Como pode uma ingratidão dessas!

— Pisava sem dó e sentia até satisfação de ver as pessoas em baixo de seus pés.

— Que crueldade dona Glória! Nunca esperei isso da Joceleide. Parecia uma menina tão boazinha quando foi embora daqui.

– Comprou um apartamento pisando nas pessoas e se aproveitou disso.

Tem pessoas que acabaram envolvidas com ela, chegando a gostar dela realmente, mas ela pisava sem dó. E quanto mais ela pisava, essas pessoas gostavam dela.

—Que horror! Pra quê isso? Tanto jeito de conquistar as coisas, não precisava pisar nas pessoas!

Um mês e meio depois, Joceleide abre uma filial de sua clínica de massagem Ashiatsu – que é a massagem feita com os pés descalços, onde ela pisava nos pacientes com o auxílio de apoios (barras e cordas) instalados no teto do local. A massagem consistia em diferentes pressões com os pés em todo o corpo do paciente. 

Uma das primeiras clientes de Joceleide foi a dona Glória, que sofria de dor nas costas e tinha um sério problema com bico de papagaio.

Por Rodrigo Alves de Carvalho – Jornalista, escritor e poeta.

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