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Campo Grande

Avião desce aqui!

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Ao ouvir o som estrondoso que chegava de algum ponto no céu, o menino corria para o meio do quintal com o pescoço arcado para trás, movendo a cabeça de um lado para o outro, até seus olhinhos avistarem o Teco-Teco que voava baixo sobre a cidade.

— Avião desce aqui!

Gritava o pequeno, aos pulos, enquanto acenava para o aviãozinho que cruzava o céu rumo a cidade vizinha.

— Avião desce aqui!

O menino sonhava com aviões. Eles passavam baixinhos sobre sua casa. Surgiam por de trás das montanhas nos limítrofes da cidade e cruzavam exatamente por onde ele morava. E eram aviões enormes, de várias cores, com as asas abertas e luzes piscantes.

— Avião desce aqui! – gritava em seus sonhos.

O menino desenhava aviões, tinha algumas miniaturas em madeira que seu tio, que era marceneiro, havia feito com restos de madeira.

— Avião desce aqui! – dizia, enquanto sobrevoava com seus aviõezinhos de madeira imaginário, sobre sua cidade imaginária.

E sempre que algum avião, por mais baixo ou distante, apareciam passando no céu, o menino gritava esperançoso:

— Avião desce aqui!

Os pais e os vizinhos sempre diziam que o menino iria se tornar um piloto.

— Onde já se viu uma criança gostar tanto assim de avião?

E era exatamente o que o menino passou a querer. Seria piloto de avião, pra ver o mundo lá do alto, pra sobrevoar sua cidade e um dia, descer em seu quintal.

Entretanto, o impensável realmente aconteceu num triste dia de inverno. Nuvens escuras encobriam o céu sobre a cidade, e a tempestade chegava aos raios e trovões.

Um grande avião com 200 passageiros estava prestes a sobrevoar a cidade. Todos os tripulantes estavam tranquilos, não esperavam que alguma coisa pudesse acontecer.

O menino não estava em sua casa naquela tarde escura. Acompanhava seu pai até o edifício no centro da cidade, em visita a um amigo da família. Pegaram o elevador e subiram até o 12º andar.

O avião emitia um barulho alto e estranho ao se aproximar sobre o menino, que foi até a janela do apartamento para vê-lo, e naquele momento, ao olhar para baixo, da janela do 12º andar… teve vertigens e descobriu que tinha medo de altura (o menino teve que voltar do 12º andar até o térreo agarrado em seu pai).

E o grande avião com 200 passageiros sobrevoou a cidade do menino. E não desceu em seu quintal.

Por Rodrigo Alves de Carvalho.

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