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Nem brigar, nem omitir

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Em ano de eleições despertam-se muitas paixões. Ainda mais no contexto atual de falta de diálogo e fartas expressões de ódio. Triste ver cristãos fazendo parte disso: ataques pessoais, desrespeito, deboches, crueldade, divulgação de informações não apuradas, geralmente falsas. Lamentável alguém que tem Cristo como modelo agindo com essa hostilidade.

Como conciliar certos destemperos verbais vistos em redes sociais com a mensagem cristã? A carta do apóstolo Paulo aos Romanos (12,18-21), por exemplo, recomenda: “na medida do possível e enquanto depender de vós, vivei em paz com todos”… “não vos vingueis, mas cedei o passo à ira de Deus”. Neste ponto, o apóstolo cita as escrituras:  “se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber” (Pr 25,21). Quer dizer, até no contexto de guerra, há limites! E o trecho indicado termina lapidar: “vence o mal pelo bem” (Rm 12, 21b).

Claro que não é o caso de sermos omissos ou passarmos por cima de tudo para evitar conflitos. “O silêncio e a omissão também são responsáveis pela deterioração da democracia” (Pensando o Brasil, CNBB). Mas é preciso agir sem “agredir, eliminar, hostilizar, ignorar ou excluir”. Pois conforme diz Dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, estes verbos “não combinam com um sistema democrático”.

Não se trata de um vale tudo! Tem gente achando que se não for para um “tudo ou nada”, se não eleger “fulano ou sicrano”, o Brasil vai se afundar. Este tipo de pensamento nada mais é do que uma nova versão, uma atualização da velha crença de que existe algum “Salvador da Pátria”. Esses costumam apelar com discursos de que “só eu posso salvar o país disto ou daquilo” e de que meu adversário “é a encarnação do mal”. Cria-se um inimigo comum e vai se escondendo, afastando, deixando de falar sobre pautas fundamentais como: saúde, educação, moradia, segurança, emprego, defesa da vida.

Enquanto perdemos tempo acreditando em salvadores da pátria, fadas madrinha ou do dente, e saímos destilando ódio em suas defesas, deixamos de lado discussões produtivas que poderiam nos levar a comprometimentos com a honestidade, bem comum e a luta contra a corrupção. Atitudes essas capazes de consolidar a democracia!

Tem muita gente propagando guerra e o fim do mundo se o seu candidato não for eleito, mas o fim do mundo será para aquele que com a eleição perder o cargo, os benefícios de ser “amigo do rei”. Acredite, o Brasil sobreviverá a mais este desafio!

Não perca amizades, não deixe de falar com parentes, por conta de ideologias partidárias, pois corre o risco de daqui a quatro anos você ver políticos que hoje estão se digladiando, abraçando-se e tomando uma cervejinha juntos. E você ainda terá que reconhecer – talvez tarde demais – que deixou de se relacionar com alguém querido por ter acreditado muito em quem faz mau uso da política.

Por Osvaldo Luiz Silva – jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, e membro da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP).

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