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A eleição de 2022 aponta um caminho de difícil retorno

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A eleição de 2022 poderá representar o fim do extremismo e da polarização política ou um aprofundamento da intolerância sem prazo para término?

Essa é a pergunta do milhão, e a resposta somente poderá ocorrer durante os anos que sucederão 2022, mas os indicativos são desalentadores.

É  importante pontuar que nossa tragédia é apenas um capítulo da corrosão das democracias liberais do mundo. O Brasil não detém a exclusividade do movimento.

Por aqui, de forma geral, vimos que as mesmas receitas já se demonstraram inócuas para o arrefecimento das demandas sociais e econômicas. E, de fato, pouco aprendemos com as lições de 2018.

Na maioria das vezes, as propostas milagrosas do liberalismo foram as mesmas com propositores diferentes: a privatização do Estado, com o desmonte de um tênue estado de bem-estar social, os arranjos políticos heterodoxos e um mergulho no individualismo do empreendedor de si mesmo. No caso brasileiro, com uma economia preponderantemente agrária e a ancoragem da economia no mercado financeiro como agravante.

Mas há um outro lado que nasceu da aplicação dos remédios acima citados que fizeram emergir um nacionalismo raivoso, com lastro em conservadorismo cristão, e também racista: um quase imaginário combate à corrupção.

A bandeira do combate à corrupção veio acompanhada de um agressivo ataque à ciência, ao estado laico, e o elogio ao moralismo como substituto do direito e dos laços de solidariedade. O conservadorismo intolerante, apesar de representar milhões, não se mostra integrado ou satisfeito com o atual estado liberal democrático.

A esdrúxula composição do ser liberal na economia e conservador nos costumes se voltou contra a política tradicional, e traduziu raiva às minorias, julgando que estas ocupam um espaço maior e mais visível do que estes “cidadãos de bem” entendem como razoável.

Uma revolta especialmente da classe média que sente, talvez exageradamente, que o Estado não se ocupa mais de seu bem-estar, e que além de corrupto e caro, pauta apenas políticas públicas identitárias distantes do que entendem ser o correto.

Pessoas que se avaliam como possuidoras de uma superioridade moral, e que se enxergam como únicas financiadoras do Estado por meio do pagamento de tributos. Ato continuo, se entendem como os verdadeiros patriotas injustiçados, não admitindo mais serem prejudicados por corruptos, e com impostos desperdiçados com artistas privilegiados, e sustentando minorias improdutivas.

Aí está o modelo ideal para a sustentação de um extremo nacional populismo de viés totalitário, cristão e moralista, que não necessita mais de um “outsider”, mas de alguém que manipule o discurso com habilidade.

Nos parece que se ocorrer alguma ínfima possibilidade, uma segunda chance, qualquer solução dentro dos parâmetros já conhecidos será mero analgésico em um paciente moribundo. Assim, ganharemos tempo até a doença ressurgir mais potente.

O cordialismo brasileiro não mais se sustenta. Por exemplo, no funeral da Rainha Elizabeth, brasileiros residentes na Inglaterra, berço do liberalismo, se voltaram contra jornalistas da BBC mandando-os para Cuba ou Venezuela, pois seriam “mentirosos” agindo como comunistas. Como não se impressionar com xingamentos trocados nas filas para votação no exterior neste 1º turno das eleições? Como reunificar e reintegrar o país ao Estado de Direito?

Não há uma bala de prata que funcione para todos, uma vez que as características de cada nação faz preponderar problemas diferentes, ainda que comunicantes, em cada uma delas.

Sabemos que há um grande esforço daqueles que prezam pela ordem democrática, mas que terá efeito passageiro antes de uma nova crise começar. Sendo este esforço de união fugaz, há urgência tardia em reestruturar a ordem social, política e econômica para que não haja recidiva, talvez sem volta, das armadilhas do neopopulismo truculento.

Reformar a politica, dando transparência e representatividade local aos eleitos pode ser um dos caminhos. Freiar o moralismo, exigindo programas de trabalho, outra necessidade. A comunicação direta, clara, quase didática, direcionadas ao eleitor, é uma outra medida urgente. Porque, com discurso falso ou não, a extrema direita conseguiu cooptar muitos corações e mentes.

E não é assim que agem agentes como o Estado Islâmico, por exemplo?

Não há mais tempo para explicar que a democracia é bela. Isso já não é mais suficiente, é quase um devaneio.

Por Cássio Faeddo – Advogado, Mestre em Direitos Fundamentais, Especialista em Ciências Sociais – USCS e MBA em Relações Internacionais – FGV/SP.

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