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Bolsonaro sequestrou a direita

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A derrota eleitoral de Jair Bolsonaro na corrida presidencial colocou em xeque toda a pauta da direita construída minuciosamente desde os eventos de 2013 que chacoalharam o país.

Possivelmente, se os direitistas tivessem se livrado da temerária campanha bolsonarista, teriam mais sorte na disputa ao Palácio do Planalto. Ocorre que Bolsonaro não olhou para o país por mais de três anos, e passou este período apenas inflamando sua bolha fascistóide. Quando acordou, já era tarde.

Apesar da tardia lembrança de que presidia um pais, quase o atual presidente conseguiu a reeleição.  Para este intento, Bolsonaro usou toda a máquina pública, recursos financeiros que o Estado não tem, e quase chegou lá. Por uma cabeza, cantaria Gardel, se a eleição pudesse ser traduzida em um tango.

Porém, o estrago foi grande. O presidente corroeu as correias que seguram a democracia, quais sejam, as instituições, não em totalidade, mas o suficiente para insuflar diversos atos de insubordinação e contra a ordem democrática.

O ápice, sem dúvida, foi o dia 7 de setembro de 2021; se o Brasil passou incólume aos acontecimentos daquele dia, passaria pelo restante.

Mas Bolsonaro provocou danos que ultrapassaram a ordem interna e que alcançaram o plano internacional que certamente provocarão muitos estudos acadêmicos futuros nas relações exteriores e diplomacia.

De ofensas a Brigitte Macron e a China, I love you para Trump, apoiar candidato na Argentina, estremecer relações com outros países, solidariedade à Rússia antes da invasão a Ucrânia, dentre outros feitos lastimáveis, Bolsonaro fez de tudo para tornar as relações internacionais um show de horrores.

Sua luta diária contra a vacina, negando a pandemia e sabidamente negligenciando e-mails da Pfizer, por exemplo, entrarão para a história como uma triste página em razão dos milhares de mortos na pandemia.

A sorte da oposição foi que Jair Bolsonaro era cercado por algumas pessoas que parecem escolhidas a dedo para um show circense. E mais, personagens sem qualquer noção de comportamento político e humano. O exemplo mais eloquente é a figura do violento Roberto Jefferson, hoje preso por ter atacado policiais federais que apenas cumpriam ordens judiciais.

Se a direita e os ditos conservadores conseguissem a proeza de fazer Bolsonaro concorrer ao Senado ou mesmo a Câmara dos Deputados, hoje provavelmente ele estaria eleito, e a direita teria tido a oportunidade de oferecer ao eleitorado um candidato competitivo, inclusive com programa de governo e centrado.

Porém, preferiram apostar tudo no antipetismo e no Fla x Flu.  Perderam força, especialmente pela debilidade e inépcia de Jair Bolsonaro.

Agora é página virada, e a política nacional já tem novos atores e personagens mais expressivos como Tarcísio, Eduardo Leite e Simone Tebet.

Assim como o trumpismo, o bolsonarismo é muito maior que seu personagem.

Por Cássio Faeddo – Advogado, Mestre em Direitos Fundamentais, Especialista em Ciências Sociais – USCS e MBA em Relações Internacionais – FGV/SP.

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