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Campo Grande

Crônica: O beijo e o gol

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Carlos, Josimar, Júlio César, Edinho e Branco; Elzo, Alemão, Sócrates e Júnior; Zico e Tiãozinho.

Isso mesmo. Era essa a seleção que o pequeno Tiãozinho tinha em mente naquele ano de 1986. Só não sabia como um menino de 12 anos poderia estar nessa seleção, mas ele sonhava, é fácil sonhar quando se é criança.

Naquela época, tudo o que Tiãozinho fazia era jogar bola, claro que estudava, mas não gostava, só gostava de jogar bola. Não era nenhum futuro Zico da vida, mas fazia seus golzinhos de vez em quando.

Em sua rua, pintaram dois gols, fizemos as áreas, o meio-campo e juntava de meninos do bairro para jogarem bola.

A maior expectativa de Tiãozinho era a chegada do sábado. O sol nem bem despontava no horizonte e ele já estava preparado: passava sebo nas chuteiras, desenrolava o meião, colocava tudo dentro da mochilinha e esperava o relógio bater oito horas, quando saia correndo de sua casa rumo ao Estádio Municipal, para treinar na escolinha de futebol da cidade.

O maior desejo de Tiãozinho nesta época era de ser titular do time, mas era difícil, havia muitos outros garotos melhores que ele, sendo assim, tinha que esperar para jogar com os outros do seu nível.

Foi nessa época também que se mudou para perto de sua casa, uma menina chamada Elaine, chegava de São Paulo, seu pai abrira uma pequena fábrica na cidade. Elaine era linda, e o jeitinho tímido da menina em pouco tempo seduziu o apaixonado Tiãozinho.

Elaine também passou a gostar do menino. E ficavam naquele amor platônico típico de pré-adolescentes.

Tiãozinho teve algumas oportunidades de se declarar, e quem sabe, conseguir o primeiro beijo, mas suas pernas começavam a tremer, as palavras não saiam de sua boca e tudo ficava no zero a zero.

Então Tiãozinho fez uma promessa a si mesmo:

“Já que quero ser um jogador de futebol e quero namorar Elaine, prometo que quando eu fizer um gol no treino de sábado e no mesmo dia der um beijo em Elaine, vou tomar outro rumo na vida, vou ser como um jogador profissional, com namorada e tudo”.

A partir daquele dia ele se esforçou ao máximo nos treinos para fazer gols, mas à noite, cadê a coragem de beijar Elaine?

Então deixava para outro dia.

Assim continuou. Tiãozinho fez vários gols, se tornou o artilheiro do time, uma grande revelação… mas, o beijo não passava de uma ilusão.

Até que decidiu desfazer a promessa, ao perceber que tudo aquilo não passava de uma besteira, ele não precisava fazer gols e beijar Elaine no mesmo dia para comprovar que seria um jogador de futebol (talvez por achar que nunca beijaria sua amada).

E exatamente naquele mesmo sábado à noite, Tiãozinho tomou coragem e conseguiu finalmente se declarar e beijar Elaine.

Entretanto, nunca mais conseguiu marcar um gol.

Por Rodrigo Alves de Carvalho – Jornalista, escritor e poeta.

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