As primeiras atividades de pesquisa agrícola no sul de Mato Grosso (antes da separação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) foram desenvolvidas pela Secretaria de Agricultura de Mato Grosso, que mantinha em sua estrutura uma Coordenadoria de Pesquisa. No início dos anos de 1970, com a vinda de muitos agricultores do Rio Grande do Sul para o sul de Mato Grosso, a Federação das Cooperativas de Trigo e Soja do Rio Grande do Sul (Fecotrigo) começou trabalhos de pesquisa em Dourados, especialmente com as culturas de trigo e soja.
Em 1975, foi implantada, em Dourados, uma Unidade da Embrapa denominada Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual (Uepae de Dourados), com a missão de gerar tecnologias para a nova fronteira agrícola do Brasil, cujo polo era Dourados. A Uepae de Dourados trabalhava com trigo, soja, milho, arroz, feijão, adubos verdes, envolvendo as áreas de entomologia, fitopatologia, melhoramento genético, fertilidade de solo, manejo de solos, plantas daninhas, visando ao desenvolvimento de tecnologias para as espécies que aqui estavam sendo cultivadas.
Em 1978, com a criação do estado de Mato Grosso do Sul, foi criada a Empresa de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul – Empaer-MS, que,diferentemente dos outros estados, era responsável pela pesquisa, assistência técnica e extensão rural. Atualmente, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – Agraer – é a entidade de nível estadual sucessora da Empaer-MS.
No fim dos anos de 1978, foi criada a primeira escola de Agronomia de Mato Grosso do Sul, em Dourados, vinculada à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Na década de 1990, foi criada a Fundação MS em Maracaju, vinculada à Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda (Cotrijui) e depois a Cooperativa Agropecuária e Industrial Ltda (Coagri) e a Fundação Chapadão, em Chapadão do Sul, liderada por produtores da região. Ambas as fundações foram criadas para interiorizarem as atividades de pesquisa e para atuarem fortemente na transferência de tecnologia, em estreita parceria com a Embrapa.
Com o passar dos anos, essas fundações cresceram e constituíram suas equipes de pesquisa. Em 1994, a Uepae de Dourados foi transformada em Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (CPAO), já trabalhando também com integração lavoura-pecuária, sistema plantio direto, dentre outras linhas de pesquisa. Atualmente, em Mato Grosso do Sul, existem três centros de pesquisa da Embrapa – Gado de Corte – com mandato nacional; Agropecuária Oeste e Pantanal – com mandato ecorregional. Atuando com pesquisa agropecuária, tem-se também a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), que mantém cursos de agronomia em Aquidauana, Cassilândia, Maracaju e Mundo Novo, e de Zootecnia, em Aquidauana; Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) com cursos de Agronomia, Zootecnia, Engenharia Agrícola e Engenharia de Aquicultura em Dourados; a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul com curso de Medicina Veterinária e Zootecnia em Campo Grande e Paranaíba, de Engenharia Florestal e de Agronomia em Chapadão do Sul; o Instituto Federal de Mato Grosso de Sul possui curso de Agronomia em Ponta Porã, Naviraí e Nova Andradina. Além das instituições públicas, têm-se as privadas como a Unigran – Centro de Ensino Universitário de Dourados – que mantém cursos de Agronomia e Medicina Veterinária em Dourados; a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) com os cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia, em Campo Grande; a Uniasselvi quem mantém o curso de Agronomia, em Três Lagoas; e a Anhanguera com os cursos de Agronomia e Medicina Veterinária, em Dourados.
Essas instituições de ensino formam, anualmente, profissionais na área de Ciências Agrárias nos níveis de graduação, mestrado e doutorado. Muitos desses acadêmicos, após a conclusão do curso, vão trabalhar como empresários ou profissionais vinculados a empresas/instituições voltadas para atividade agropecuária.
Em Selvíria, está localizada a Fazenda Experimental da Faculdade de Engenharia – Campus de Ilha Solteira – da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Quando se analisa a distribuição espacial das instituições de ensino e pesquisa, constata-se que todas as regiões do estado estão sendo atendidas. Também existem, no Estado, empresas privadas em São Gabriel do Oeste, Maracaju, Bandeirantes, Chapadão do Sul e Dourados que geram conhecimento para o desenvolvimento da agropecuária.
Ao se analisar o quantitativo de instituições que geram conhecimentos para a agropecuária de Mato Grosso do Sul, constata-se que existe um número expressivo de instituições. Como o Estado e os produtores estão se empodeirando desses conhecimentos? Graças à capacidade empreendedora dos produtores e os conhecimentos gerados pela pesquisa, hoje, em Mato Grosso do Sul, cultivam-se soja, milho, seringueira, cana-de-açúcar, eucalipto, mandioca, algodão, dentre outras espécies de forma isolada, ou em sistemas integrados como, por exemplo, lavoura-pecuária, além de alternativas que estão sendo avaliadas pela pesquisa. Também, é notório o desenvolvimento da pecuária de corte, o crescimento da suinocultura, da avicultura e da piscicultura. Os conhecimentos que são gerados atendem a todos os extratos de agricultores.
No caso específico da agricultura familiar, em evento realizado pela Embrapa e parceiros, a Tecnofam, em Dourados, em setembro de 2022, constatou-se muitas tecnologias que têm sido geradas para este público. As instituições que geram conhecimento também se preocupam com a transferência desse conhecimento para que o agricultor possa se emponderar de novas tecnologias.
Anualmente são realizados diversos eventos por várias instituições visando à transferência de tecnologia. Importante destacar que tecnologias geradas aqui, muitas vezes, são adotadas por produtores de outras regiões do País. Exemplo é a cultivar de trigo – BR 18 Terena, desenvolvida pela Embrapa, em Dourados, que foi muito plantada em outras unidades da federação.
Mato Grosso do Sul possui um conjunto de instituições e de pesquisadores que estão fazendo e ainda podem fazer muito mais para que a agricultura do estado possa crescer de forma sustentável, dentro dos mais rígidos padrões e exigências. Não nos resta dúvida que com pesquisa, ciência e tecnologia, será possível produzir alimentos, fibra e energia para atender à crescente demanda da sociedade. E, quando se pensa em segurança alimentar, é indiscutível a importância da pesquisa e da ciência.
O grande salto verificado em Mato Grosso do Sul, tanto na agricultura como na pecuária, deve-se aos conhecimentos gerados pelas diversas instituições de pesquisa que atuam no Estado.
Fonte: Fernando Mendes Lamas (Pesquisador)
Embrapa Agropecuária Oeste