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Quem tem Cambucá?

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Volto a falar do enorme e único pé de cambucá que conheci quando menino, em Corupá, a Cidade das Cachoeiras, e que povoou toda a minha vida. Nunca esqueci dele. O pé de cambucá é um marco na minha infância, pois sempre esperei encontrar uma outra árvore com aquela fruta de sabor único, de textura única, que se parece um pouco com pêssego, mas é só um pouco e só na aparência.

Quem tem Cambucá?

Pensei nunca mais encontrar um cambucazeiro, parecia que eles se escondiam de mim, ou pior – pensei que eles talvez não existem mais, por aqui.
Como já disse, eu nunca esqueci aquela árvore majestosa, enorme cambucazeiro com uns dez metros de altura. Ela ficava na casa de um vizinho, na Plantagem, e nós íamos lá, quando os cambucás estavam maduros, pedir para subir e comer alguns. E os vizinhos deixavam e a gente subia e subia naquela árvore gigantesca e apanhava os frutos amarelos e/ou alaranjados, duros por fora, mas suculentos por dentro, com uma semente dura e lisa, talvez do tamanho de uma semente de pêssego. O tamanho da fruta também regulava com o tamanho de um pêssego grande, só que era redonda. A polpa não tinha separação da casca, então a gente abria a fruta com os dentes, tirava a semente e comia a parte macia até chegar na parte mais resistente.
O cambucá deve ser parente da jabuticaba, pois as flores e os frutos dão direto no tronco e nos galhos do pé, e o sabor é até um pouquinho parecido, mas é característico, só dele, porque é agridoce, ácido, incomparável.
Andei procurando, numa das minhas idas a Corupá e encontrei, já quase velho, mais de cinquenta, um pé de cambucá, ainda que bem jovem, na casa de uma tia minha, vejam vocês. E também encontrei um cambucazeiro já bem grandinho, na casa do meu amigo escritor Flávio José Cardozo, em Santo Antonio de Lisboa, na Ilha. Há uns dois ou três anos fui à casa dele quando os cambucás estavam maduros e ele me presenteou com vários frutos maduros. Neste verão, quem sabe não vou visitá-lo, para subir naquele belo pé de cambucá e poder brincar de ser menino de novo. E voltar a sentir na boca o sabor da infância.

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 42 anos de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras.

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