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Campo Grande

Crônica: Cobrando o cachorro-quente

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Dias desses, fiquei sabendo que minha sobrinha de sete anos havia começado um empreendimento comercial juntamente com uma vizinha, amiguinha dela. Apanharam alguns limões de um terreno baldio perto de sua casa e fizeram um grande jarro de limonada, que passaram a vender por cinquenta centavos o copo.

Minha sobrinha aguardava algum morador desavisado aparecer na rua e corria atrás oferecendo a limonada natural e refrescante. Conseguiram lucrar quatro reais e cinquenta centavos no primeiro e único dia de empreendimento, já que no outro dia, decidiram brincar de outra coisa.

Isso me fez lembrar do Jeremias, que também foi um comerciante quando criança, com seu vizinho Jerônimo, mas no ramo dos cachorros-quentes. Conseguiram um empréstimo com sua mãe e compraram pão e salsinha.

Infelizmente, o negócio não foi muito bem, já que venderam apenas um cachorro-quente para o Lindolfo, que morava no final da rua. E o pior, fiado. 

Porém, um verdadeiro homem de negócios nunca desiste de seus lucros, e após quarenta anos, Jeremias descobriu onde seu freguês inadimplente morava e foi até lá para cobra-lo.

— Olá Lindorfo. Tudo bom!

— Há quanto tempo Jeremias! Você não mudou nada desde que a gente brincava lá na rua.

— Então, eu estava te procurando faz um tempão para te dizer uma coisa.

— Nossa! O que pode ser tão importante, caro amigo?

— Você me deve um cachorro-quente que comprou fiado na barraquinha que eu e o Jerônimo montamos na frente de casa em 1983…

— Cachorro-quente? Não me lembro disso não.

— Você pediu o cachorro-quente, comeu, e só depois disse que não tinha dinheiro e iria pedir para sua mãe. Só que nunca mais tocou no assunto.

— Cara, não lembro de ter comido cachorro-quente algum.

— Peraí. Vou ligar para o Jerônimo.

— O Jerônimo ainda está vivo?

— Alô Jerônimo… sou eu, o Jeremias. Sabe quem eu encontrei depois de quarenta anos? … o Lindorfo… é… aquele que ficou devendo um cachorro-quente pra gente… lembra? Como não? Aquele cachorro-quente que ele comeu fiado em 1983… ah… tudo bem… depois a gente se fala.

— E aí, ele lembrou?

— Não. Está na estrada e não pode ficar falando agora.

— Cara. Juro que não me lembro desse cachorro-quente. Mas se você está falando, eu pago. Quanto é?

— Na época custou cem cruzeiros.

— Espera um pouco.

Lindolfo entrou em sua casa e voltou com duas moedas de cinquenta cruzeiros de sua coleção de moedas antigas.

— Está pago.

Jeremias foi embora satisfeito. Ansioso para encontrar Jerônimo e entregar cinquenta cruzeiros, que era a parte que cabia a seu sócio, naquele empreendimento de 1983.

Por Rodrigo Alves de Carvalho –  Jornalista, escritor e poeta.

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