O espetáculo ‘Estado Fantasma’, que será apresentado pela primeira vez no Porto Geral, em Corumbá, no dia 22 de outubro, às 17h30, é resultado do trabalho do coreógrafo Fernando Martins com os bailarinos da companhia sul-mato-grossense.
“Como seres que vivem em conexão com a natureza e dependem dela para sobreviver, os indígenas sentem o impacto destrutivo que o consumismo moderno causa em seu ambiente. As raízes profundas, que antes serviam como sustento e abrigo, agora são arrancadas para dar lugar a estradas e construções que trazem poluição e degradação ao ambiente. Hoje, rastejam sem rumo para fora da lama, misturando-se com a fumaça”.
Esta é uma pequena descrição do novo trabalho da Cia de Dança do Pantanal.
O trabalho de Martins com a Cia de Dança do Pantanal começou em maio deste ano, quando ele passou 40 dias em Corumbá, numa verdadeira imersão com os bailarinos. Do processo criativo e de muitas trocas, nasceu ‘Estado Fantasma’.
“O ‘Estado Fantasma’ também trata de nossa insensibilidade, desatenção e incapacidade de ver as coisas como realmente são. Enquanto estamos anestesiados e obcecados em obter mais bens e mercadorias, não percebemos diretamente que nossos caprichos estão diretamente ligados à exploração das terras indígenas, seja em ouro, madeira ou minério, além do número elevado de doenças que invadem seus territórios. Somos comedores de terra, como diz Davi Kopenawa. Assim, o primeiro passo seria entender como isso acontece”, explica o coreógrafo.
No processo de criação, houve uma investigação pessoal de cada um dos 13 bailarinos da companhia. O objetivo era traçar a árvore genealógica deles e redescobrir seus ancestrais.
Agora, Fernando Martins volta a Corumbá para 11 dias de ensaios com os bailarinos, até a estreia do trabalho, que será totalmente gratuita e aberta ao público. “Vivemos em uma terra que nossos ancestrais já viveram. E essa reflexão precisa ser coletiva. Por isso, convidamos a todos para assistirem à estreia de ‘Estado Fantasma’, no Porto Geral”, convida a diretora-executiva do Moinho Cultural e diretora da Cia de Dança do Pantanal, Márcia Rolon.
Os figurinos usados no espetáculo também foram construídos coletivamente, a partir do Laboratório de Criação de Vestuário, proposto pela artista plástica e da dança, Carolina Sudati.
A criação musical do espetáculo aconteceu durante a imersão dos bailarinos com Martins. Para ele, criar um sistema coeso entre pesquisa de linguagem para dança e a unidade da estrutura sonora é sempre um desafio que me move na construção dramatúrgica dos trabalhos.
“Para mim, não há separação desses campos. Conectá-los é trabalhar se alimentando da fonte, que são as pesquisas, uma potencializando a outra em um trabalho contínuo e sem fim. A cada passo dado, essas forças se conectam trazendo pra superfície um novo detalhe, um novo conceito”, destaca o coreógrafo.
SOBRE A CIA DE DANÇA DO PANTANAL
A Cia de Dança do Pantanal foi criada em 2017, na cidade de Corumbá/MS, fronteira com a Bolívia, sendo uma das ações integradas do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. O intuito desde o início é de proporcionar acesso e oportunidade de profissionalização de bailarinos oriundos de projetos sociais sul-americanos, bem como representar o território pantaneiro, divulgando a dança com repertórios que incluem peças neoclássicas e contemporâneas, criadas por coreógrafos nacionais e internacionais.
A Companhia se propõe a explorar e focar em seus trabalhos contemporâneos um dos biomas mais preciosos da Humanidade, o Pantanal, que se estende pelo Brasil, Bolívia e Paraguai, países que têm o estado de Mato Grosso do Sul como adjacente e é considerada a maior área inundável do planeta. A “COMPANHIA DE DANÇA DO PANTANAL” é um espaço onde artistas locais, nacionais e internacionais, formados com um alto grau de conhecimento técnico, artístico e profissional nos padrões internacionais representam Corumbá/MS e o Brasil, dentro e fora do país, para um público cada vez mais exigente de qualidade, excelência e grandeza no Brasil e no mundo.
Fonte: Comunicação