Os dispositivos eletrônicos e o mundo virtual são cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Jovens da geração Z praticamente já nasceram conectados e sequer conhecem um mundo sem internet. Essa “imersão digital”, ao mesmo tempo que abre novas possibilidades, desconecta as pessoas da realidade, impondo enormes desafios, principalmente para a Educação e o combate a uma forma global de violência: o bullying digital.
Os debates e as restrições sobre uso de celulares e tablets em sala de aula ocorrem em todo o mundo. Países como a Finlândia, Holanda, Portugal e Estados Unidos já proíbem total ou parcialmente o uso de dispositivos eletrônicos no período escolar.
O Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco, intitulado “A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?”, já aponta os riscos dos eletrônicos para a educação de crianças e jovens.
No Brasil, um projeto de 2015, em análise na Câmara dos Deputados, visa proibir o uso dos eletrônicos em classe, com exceção para os utilizados para atividades relacionadas às aulas.
No Rio de Janeiro, alunos da rede municipal de ensino já estão proibidos de utilizar celular em aula. Paradoxalmente, foi no próprio Rio de Janeiro, em uma escola privada, que o uso de dispositivos eletrônicos por estudantes mostrou sua face mais perigosa.
Na última semana, cerca de 20 alunas foram vítimas de “fake nudes” criados por outros estudantes com uso de inteligência artificial e espalhados pela internet, por redes sociais.
O abalo para as vítimas e os prejuízos para a reputação da escola ficaram evidentes. O colégio não conseguiu identificar ou evitar o problema. Para as escolas, estar em conformidade com a Lei 13.185/2015 (Lei do Bullying) é uma exigência e o próprio mercado vai extinguir as instituições que não se adequarem à lei e não estiverem preparadas para combater o bullying.
Mas não basta a ação das escolas. A supervisão dos pais sobre o uso do celular pelos filhos é crucial para protegê-los de riscos como o bullying digital. Aqui cito estratégias que os pais podem adotar, com e sem o uso de programas ou aplicativos de controle parental:
Sem programas ou aplicativos de controle parental:
- Conversas regulares: Inicie discussões abertas sobre a importância da segurança online e os riscos do bullying digital. Isso pode ajudar as crianças e jovens a se sentirem confortáveis para compartilhar suas experiências online.
- Educação digital: Ensine sobre comportamento online responsável e as consequências de interações negativas na internet.
- Navegação conjunta: Periodicamente, navegue na internet e nas redes sociais com seus filhos, mostrando interesse pelas atividades deles online de maneira não intrusiva.
- Revisão das configurações de privacidade: Oriente e ajude seus filhos a configurar as opções de privacidade em suas contas de mídias sociais para controlar quem pode ver e interagir com o que postam.
- Atenção aos sinais: Esteja atento a mudanças de comportamento, uso excessivo ou secreto do celular, e sinais de estresse ou tristeza.
- Observação das atividades: Conheça os amigos dos seus filhos online e offline e observe os tipos de jogos e aplicativos que eles utilizam.
Com programas ou aplicativos de controle parental:
- Filtros de conteúdo: Use aplicativos de controle parental para filtrar e bloquear conteúdo impróprio ou sites conhecidos por problemas de bullying.
- Restrição de downloads: Configure restrições para impedir o download de aplicativos ou jogos sem consentimento prévio.
- Logs de atividades: Alguns aplicativos de controle parental oferecem registros detalhados das atividades online, incluindo tempo de tela, aplicativos usados e histórico de navegação.
- Alertas de palavras-chave: Configure alertas para palavras-chave que possam indicar bullying ou conteúdo inapropriado.
- Gestão de tempo de tela: Limites de Tempo: Estabeleça limites diários para o uso de dispositivos e horários específicos em que o uso é permitido.
- Bloqueio remoto: A possibilidade de bloquear remotamente o dispositivo pode ser útil para fazer cumprir os limites de tempo de tela ou em casos de uso inapropriado.
- Localização e segurança: Rastreamento de Localização: Alguns aplicativos permitem rastrear a localização do dispositivo, o que pode ser útil para segurança geral e em casos de emergência.
Respeito ao direito de imagem dos colegas: Conscientização e responsabilidade digital com os filhos:
- Explique o conceito de direito de imagem: Comece explicando o que é o direito de imagem, esclarecendo que cada pessoa tem controle exclusivo sobre como sua imagem é usada. Reforce que usar a foto de alguém sem permissão é uma violação desse direito.
- Ilustre com exemplos cotidianos: Use exemplos práticos que a criança possa entender, como a sensação de ter uma foto sua compartilhada sem que você queira. Isso ajuda a criar empatia e compreensão sobre a importância da questão.
- Relacione com o mundo real: Faça paralelos entre atitudes online e no mundo físico. Pergunte como se sentiriam se alguém usasse uma foto sua em uma situação embaraçosa na escola, por exemplo.
- Discuta as consequências do bullying digital: Converse sobre como a manipulação de imagens pode ferir os sentimentos dos outros e as possíveis consequências legais e disciplinares que surgem ao ferir o direito de imagem.
- Enfatize a responsabilidade digital: Ensine que, assim como no mundo real, há regras e responsabilidades no mundo digital. Sublinhe que ações online têm impactos reais nas vidas das pessoas e que a ética deve ser mantida em todos os ambientes.
- Encoraje a empatia e a integridade: Incentive seus filhos a sempre pensar sobre como suas ações afetariam outras pessoas e a tratar todos com respeito, tanto pessoalmente quanto online.
- Deixe claras as regras da sua casa: Estabeleça regras claras sobre o uso de imagens e a navegação na internet em casa, e as consequências de não respeitar essas regras.
Por Ana Paula – especialista em bullying e bullying digital.