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Crônica: A franja torta da rainha má

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Nunca se viu tanta beleza quanto a rainha de um pequeno e longínquo reino na Europa de outros tempos.


Sua beleza era tamanha que o rei, um sujeito bonachão e submisso, havia se tornado cego e enfeitiçado por ela desde o momento em que a viu chegando ainda princesa, num

Crônica: A franja torta da rainha má

cavalo branco, vestida de seda e pedras preciosas para o casamento real, arranjado por seus pais, que na época, eram os monarcas de reinos vizinhos.

Ao assumir o trono, o rei nunca reinou, era apenas um capacho que obedecia aos mandos e desmandos da linda rainha, que infelizmente, o que tinha de bela, tinha de má.

Seus súditos sofriam as consequências por terem um rei omisso e uma rainha tirana que usava de sua beleza para conseguir tudo o que queria, dessa forma, eram explorados ao máximo, pagavam altos impostos que na realidade seriam transformados em mimos para a esposa real, joias, terras e luxos que nenhuma outra rainha sonhava em possuir.

Sempre bem vestida, sempre bem maquiada, perfumada e linda, a rainha destilava toda sua arrogância e crueldade, ninguém era capaz de se levantar para confronta-la, pois, o rei hipnotizado pela beleza incomparável era apenas um reles fantoche que se deixava levar pela exuberância de sua esposa.

Enforcamentos e decapitações eram as punições para aqueles que ousassem ser contra a rainha, enquanto o rei apenas concordava, porque a achava perfeita demais e tudo o que quisesse fazia parte dessa perfeição, nem que fosse condenar seus súditos à morte.

— Sou o rei abençoado por Deus em ter a rainha mais bela que nenhum outro reino já teve e nunca terá.

Orgulhava-se o monarca diante de sua corte.

Certo dia, o rei e a rainha desfilavam pelo reino, onde era exibida a beleza real de vossa majestade para todos contemplarem.

No meio do povo, um pobre barbeiro ao observar a rainha gritou:

— A franja da rainha está torta!

O rei logo olhou para o cabelo da esposa e constatou realmente a franja jogada de lado e alguns fios que lhe caia sobre a testa.

A mulher sem saber o que dizer, tentou se recompor, mas teve que ouviu o rei pedir desculpas aos súditos por essa sua imperfeição.

Só então o rei acordou de seu transe e pode enxergar pela primeira vez que a rainha na verdade era horrível.

Percebeu as mais cruéis maldades cometidas pelo orgulho em possuir uma beleza falsa, agora desmascarada e despenteada.

O rei nunca mais permitiu que ela cortasse sua franja torta, para sempre se lembrar que a beleza pode ser apenas uma casca supérflua que enfeitiça e engana.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

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